Um estudo das primeiras ocorrências da palavra “amor” nas Sagradas Escrituras.
“Gênesis” significa “origem”. Neste primeiro livro da Bíblia encontramos as sementes de todas as doutrinas que se desdobram no resto das Sagradas Escrituras. Um princípio que nos ajuda muito no estudo da palavra de Deus é a “Lei da Primeira Menção”. Isto é, que quando, pela primeira vez, Deus introduz um determinado assunto, Ele indica logo nesta primeira referência as características ou os princípios fundamentais desse assunto. No livro de Gênesis se encontra a primeira menção de quase todos os grandes temas da Bíblia.
Sem dúvida o amor é o tema principal das Escrituras: é o que a lei exige (ver Lv 19:18; Dt 6:5; 10:12); é o que Cristo manifestou e realizou com perfeição (Jo 3:16; Rm 5:8; I Jo 3:16); e é o resultado da recepção do Evangelho no poder do Espirito Santo (Jo 13:35; Gal. 5:22). Amor realmente é o ambiente do céu — sempre o era e sempre há de ser. Assim as primeiras duas referências em Genesis — 22:2 e 24:67 — são tipos daquele amor eterno, de eternidade a eternidade. Primeiro, (Gen 22) o amor entre o Pai e o Filho é tipificado por Abrão e Isaque, e então, (Gen 24) o amor de Cristo para com Sua igreja é tipificado por Isaque e Rebeca. O amor de Abraão para com seu único filho Isaque reflete aquele amor sem começo com que Deus Pai sempre amou ao Seu Filho unigênito. O amor de Isaque para com Rebeca reflete aquele amor sem fim com que Cristo ama, e sempre amará, a igreja, Sua noiva.
A palavra “amor” ou “amar” ocorre quinze vezes em Gênesis e podemos classificar as referências como segue:
1. Amor do Pai — 22:2; 37:3,4; 44:20;
2. Amor do esposo — 24:67; 29:18, 20, 30, 32;
3. Amor parcial — 25:28; 29:30;
4. Amor do paladar — 27:4, 9, 14;
5. Amor proibido — 34:3.
Vamos, porém, limitar nossa meditação agora à primeira classe — o amor puro de Deus ilustrado pelas histórias simples dos patriarcas.
1. O amor do Pai
Gen 22:2 — Certamente Paulo estava pensando neste capítulo quando escreveu em Romanos 8:32: “Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós”. O mesmo Deus que mandou que Abraão poupasse o seu amado filho Isaque (v 12), não poupou o objeto de Seu eterno amor, mas sim, o entregou por amor de nós. Em Jo 17:24 lemos as palavras do Filho de Deus: “Tu me hás amado antes da fundação do mundo”. Como Abraão e Isaque “foram ambos juntos” (v 6), “caminharam ambos juntos” (v 8), para o lugar do sacrifício, assim podemos seguir o curso destas Pessoas divinas desde a eterna glória, “antes que o mundo existisse” (Jo 17:5), até o lugar onde Cristo se entregou por nós. Os Evangelhos, especialmente o de João, destacam esta comunhão ininterrupta entre o Pai e o Filho, tanto na Sua vida (Jo 8:29; 16:32) quanto na Sua morte (Lucas 23:34, 46). E foi naquela mesma localidade, na terra de Moriá (comparar Gen 22:2 e II Cro 3:1), no monte do Calvário, que aquele amor, divino, puro e eterno, transbordou em graça e misericórdia, realizando a salvação de todo aquele que crê: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira…”Gênesis 37:3,4 e 44:20. — Estes versículos, referindo-se ao amor de Jacó para com José, ilustram um outro aspecto do amor do Pai. Em Gênesis 22 Isaque é o filho único, objeto especial do amor de seu pai — o qual corresponde ao amor de Deus para com Seu Filho unigênito. Agora vemos José entre seus irmãos, amado mais do que eles porque ele é o primogênito (ver I Cron 5:1,2). Deus, na Sua soberana graça, há de trazer muitos filhos à glória (Heb 2:10), mas, embora todos sejam amados com amor eterno, o Senhor Jesus Cristo terá o lugar de primazia entre eles, e por esta causa Ele se chama de “o Primogênito entre muitos irmãos” (ver Romanos 8:29). Na Bíblia, “primogênito” nem sempre significa “o filho que nasceu primeiro”, mas, como no caso de José, indica uma posição de honra e privilegio entre irmãos. Enquanto Ele não se envergonha de nos chamar irmãos, confessaremos sempre que Ele é o Senhor, para a glória de Deus Pai.
2. O Amor do Esposo
Gen 24:67. — O servo de Abraão, anônimo, mas tão fiel e piedoso, falando somente de seu senhor e do filho de seu senhor, é uma bela ilustração do ministério do Espírito Santo neste dia da graça de Deus (ver Jo 16:13-15). A missão do Espírito agora é chamar a igreja e prepará-la, adornada com virtudes e dons espirituais, para o encontro com o Noivo. E é muito comovente observar como Isaque não ficou esperando na sua tenda, mas saiu para encontrar com Rebeca, sua noiva. Da mesma maneira, o Senhor Jesus também não irá aguardar, lá na glória, a chegada da igreja, mas sim, como diz I Tessalonicenses 4:16, “o mesmo Senhor descerá dos céus” para encontrar com ela nos ares e levá-la à casa de Seu Pai.Gênesis 29:20 diz: “Assim Jacó serviu sete anos por Raquel: e foram aos seus olhos como poucos dias, pelo muito que a amava.” Este versículo nos lembra de II Pedro 3:8: “Que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia.”
Um dia como mil anos. Naquele dia de horror, naquelas horas de densa escuridão, de angústia e agonia, o Noivo da igreja realmente suportou uma eternidade de tormentos — levando sobre Si as iniquidades dela, fazendo tudo para prepará-la para Sua presença: “Cristo amou a igreja e a Si mesmo Se entregou por ela … para a apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” (Efésios 5:25-27)
Mil anos como um dia. Para Jacó os sete anos de serviço pareceram poucos dias “pelo muito que a amava”. Porém, a longanimidade de nosso Senhor é muito maior. Ele ama tanto aos Seus escolhidos que mil anos Lhe parecem um só dia, “não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (II Pedro 3:9).
Mas logo vem o dia quando as multidões celestes clamarão em voz triunfante: “Regozijemo-nos e alegremo-nos, e demos-Lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já Sua esposa se aprontou.” (Apocalipse 19:7). Naquele dia o Esposo divino verá o fruto do trabalho da Sua alma, e ficará satisfeito.
Que este divino amor, introduzido nesta maneira tão tocante no primeiro livro da Bíblia, possa tomar posse de nossos corações a fim de banir deles todo amor pervertido, carnal ou parcial, o qual também aqueles patriarcas as vezes manifestaram com resultados indesejáveis.
“Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus.” (Judas 21)
T. J. Blackman
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