Como esta Pessoa divina opera na vida coletiva de uma igreja local
O Novo Testamento deixa muito claro que nunca foi a intenção de Deus que o cristão andasse isolado. Veja, por exemplo, Romanos 12:1-8. O propósito de Deus para cada pessoa, salva pela Sua graça, é que trabalhe em conjunto com os membros de uma igreja, isto é, de um testemunho estabelecido e ordenado conforme as Escrituras ensinam. Sem a presença e direção do Espírito Santo este propósito jamais será realizado.
Vamos estudar este assunto tão importante em três aspectos: (i) O Espírito Santo e a Santidade da Igreja Local; (ii) O Espírito Santo e a Unidade da Igreja Local; e (iii) O Espírito Santo e Sua Autoridade na Igreja Local.
(i) Santidade. Lemos em Efésios 2:21-22 acerca da igreja (no sentido universal) que, como edifício, cresce para templo santo no Senhor. Quando o Senhor estava aqui Ele disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt 16:18). Desde o dia de Pentecostes (Atos 2) esta igreja está sendo edificada, e há de ser manifestada, completa e perfeita, como templo santo do Senhor quando Ele vier em glória. Paulo informa aos efésios que também eles juntamente estavam sendo edificados, fazendo parte deste grande edifício, “para morada de Deus em Espírito”. A palavra traduzida “templo” (v. 21) não significa os prédios e pátios do templo em geral, e sim, indica especificamente a casa ou santuário no centro, composto de duas partes, o “Lugar Santo” e o “Lugar Santíssimo”. Portanto, nenhum membro da igreja, que é o corpo de Cristo, estará distanciado dEle como nos pátios exteriores, mas sim, todos, sem exceção, farão parte de Sua santa habitação, em glória no milênio e na eternidade.
É justamente esta palavra, “templo interior”, que é usada em I Coríntios 3:16-17 para descrever a santidade da igreja local. Dirigindo-se à igreja em Corinto, Paulo diz: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?”. Notemos, em primeiro lugar, que esta é mais uma prova da divindade do Espírito. Porque se Ele não fosse Deus, não teria direito de habitar no lugar santíssimo de Deus. Este trecho também ensina a onipresença do Espírito, mostrando que Ele habita pessoalmente em cada igreja local.
O versículo seguinte (v.17) contém um aviso solene contra a profanação deste santuário. A palavra traduzida “destruir” também quer dizer “profanar” ou “corromper”. Assim, o apóstolo está dizendo que as facções, sabedoria humana e imoralidade estavam profanando e, portanto, destruindo a igreja em Corinto como santuário de Deus. Isto traria consequências graves sobre os responsáveis por tal profanação.
À primeira vista, o próximo versículo parece mudar abruptamente de assunto: “Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio”. Porém o apóstolo está mostrando realmente que é esta mesma sabedoria humana que profana o santuário de Deus, introduzindo costumes e princípios que, como madeira, feno e palha, são inteiramente impróprios e indignos de um lugar tão santo. Se reconhecêssemos a seriedade desta verdade — que cada igreja local (não o salão mas a igreja que se reúne) é a habitação do Espírito Santo — nossa atitude seria bem diferente! Certamente, como “loucos”, estudaríamos a Palavra de Deus, para que, instruídos pelo Espírito, fossemos sábios, sabendo de que maneira Deus quer que Sua casa seja ordenada.
(ii) Unidade. Outra vez podemos comparar a operação do Espírito na igreja que é o corpo de Cristo e na igreja local. A unidade do corpo de Cristo foi criada uma vez por todas no dia de Pentecostes. Paulo descreve isto em I Coríntios 12:13: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo”. Efésios 4:4 diz a mesma coisa: “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação”. A igreja como o corpo de Cristo tem um só começo — o batismo no Espírito Santo no dia de Pentecostes — e uma só consumação — o arrebatamento, quando o Senhor voltar aos ares (I Ts 4:17). No dia de Pentecostes todo membro foi batizado em um Espírito formando um corpo, e, portanto, Paulo diz: “nós fomos batizados”, embora nem ele nem os cristãos em Corinto eram convertidos quando aconteceu o evento narrado em Atos 2. A segunda vinda do Senhor manifestará esta unidade, quando todo membro, tanto nós, os que ficarmos vivos, quanto aqueles que já “dormem”, seremos arrebatados juntamente ao encontro do Senhor. Assim, não há nem possibilidade nem necessidade de criar a “unidade do Espírito”. O corpo de Cristo é obra do Espírito Santo, e portanto é perfeito, inquebrável e eterno.
Contudo, é o desejo do Espírito, e a responsabilidade do cristão, manifestar esta unidade na igreja local. Por isto está escrito em Efésios 4:3: “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”. “Procurando” indica não meramente uma atitude passiva de não fazer mal a ninguém, mas antes, diligência positiva — procurando tratar uns aos outros como Cristo tem nos tratado: com fidelidade, bondade, justiça, paciência e, acima de tudo, com amor. Este fenômeno não é natural; é, na verdade, o fruto do Espírito produzido naqueles que são nascidos de Deus.
Foi o mesmo Espírito que inspirou Davi (II Sam. 23:2) a escrever, no Salmo 133: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” Nos versículos dois e três deste Salmo encontramos duas figuras do Espírito Santo: o óleo precioso, e o orvalho, indicando assim que a causa ou fonte dessa união é a presença e operação do Espírito nos filhos de Deus.
No óleo precioso, derramado sobre a cabeça de Arão na ocasião de sua consagração, temos uma ilustração de como todo aspecto de nossa vida, “da cabeça aos pés”, deve ser dominado pelo Espírito de Deus. Observe a ordem no versículo 2: “sobre a cabeça” — o entendimento (Col. 3:10; I Jo 2:20,27); “sobre a barba” — maturidade (I Co 14:20); e “que desce à orla dos seus vestidos” — todo o andar e maneira de viver (Col. 3:12-14). Sem dúvida a unção de Arão foi abundante, atingindo até à orla dos seus vestidos. E será que a unção do Espírito, que cada cristão já recebeu, é algo inferior a isto? De maneira alguma, porque o Bom Pastor disse, em Jo 10:10: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (compare Salmo 23:5).
Há no orvalho também a ideia de abundância, pois o orvalho que cai sobre as montanhas da terra prometida é proverbialmente copioso. Porém o pensamento principal no v.3 é que o mesmo orvalho do céu desce tanto sobre Hermon no norte quanto sobre as montanhas de Sião no sul. Do mesmo modo é “um só e o mesmo Espírito” que habita e opera em cada cristão na igreja local. Portanto, é no lugar onde os santos vivem em união, no poder do Espírito de Deus, que “o Senhor ordena a benção e a vida para sempre.”
(iii) Autoridade. Residente na igreja local, o Espírito Santo é o representante do Deus Triuno. Notamos em I Coríntios 12:4-6 que as três Pessoas da Trindade estão intimamente envolvidas na vida de uma igreja local, e no contexto de I Coríntios capítulos 11 à 14, vemos que este envolvimento é notado especialmente nas reuniões da igreja local, quando a autoridade e ordem divinas devem ser sempre demonstradas, pela presença do Espírito Santo e pela reverência de todo cristão.
Os versículos 4 à 6 de I Coríntios 12 mostram que o Espírito é quem distribui os dons, o Senhor Jesus quem governa os servos de Deus, e que é de Deus Pai o poder que opera “tudo em todos”. Vemos, porém, que as funções das outras duas Pessoas da Trindade se exercem mediante o Espírito Santo. Assim, ainda que seja o Senhor Jesus quem administra, como cabeça da igreja, é o Espírito quem guia, e é só por Ele que os crentes podem dizer que Jesus é o Senhor (ver vs. 2 e 3). Ainda que seja o Pai quem opera tudo em todos, lemos no versículo 11: “Mas um só e o mesmo Espírito opera (a mesma palavra) todas estas coisas.”
O capítulo 14 dá ênfase à responsabilidade que todos numa igreja local tem de manter ordem no temor de Deus. Devem usar seus dons espirituais (ou talvez deixar de usar) para a edificação de todos (v.12) e para a glória de Deus (vs. 32 e 33). Nunca se deve imaginar, porém, que podemos cumprir esta responsabilidade sozinhos. Provérbios 3:5-6 diz: “…não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas.” Visto que o Novo Testamento declara com tanta clareza que o Espírito Santo habita na igreja local e sempre está presente nas suas reuniões, isto quer dizer que Ele está entre nós a fim de governar (At 20:28), guiar (I Co 12:3) e capacitar (I Co 12:11). Portanto, podemos contar com Sua presença e com Sua presidência. Confiando nEle e dependendo dEle, tudo será feito “decentemente e com ordem” (I Co 14:40).
Vamos fazer um resumo deste ensino. (i) O Espírito de Deus é a fonte da santidade da igreja local, e, portanto, nunca devemos poluir a igreja com as nossas invenções humanas. (ii) Ele é a fonte da unidade da igreja — nunca devemos dividí-la com contendas carnais. (iii) Ele é a autoridade divina na igreja, e, por esta causa, devemos nos submeter à Sua vontade e depender da Sua direção.
“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2:7,11,17,29; 3:6,13,22).
T.J.Blackman
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