segunda-feira, 29 de junho de 2015

Nomes bíblicos do povo de Deus (iv) — Santos

“…e o santo continue a santificar-se” (Ap 22:11)

O Significado deste nome


Temos meditado sobre alguns dos nomes Bíblicos para o povo de Deus, como “filhos de Deus”, “discípulos”, e “o corpo de Cristo”. Chegamos agora à consideração de mais um destes nomes, e provavelmente todos nós sentimos uma certa dificuldade com este nome, “santos”. Talvez isto seja porque este nome tem sido pouco entendido no cristianismo, e até entre muitos dos salvos. Também, sem dúvida todos nós sentimos a nossa falta daquilo que o nome indica, a santidade, e sabemos que estamos longe do padrão divino. De fato, é uma verdade que quanto mais procuramos ser santos, mais sentimos que não somos dignos deste nome (Ro 7:18-25). Contudo, evidentemente, Deus não quer que fiquemos sem entendimento sobre este assunto, porque este nome, junto com seus derivados (“santificação”, “santidade”, “santuário”, etc), é usado mais ou menos mil vezes na Bíblia.

Do Antigo Testamento observamos como o nome “santo” é usado com referência aos lugares onde Deus estava (Êx 3:5), objetos (Êx 28:38), vestes (Êx 29:29), óleo (Êx 37:29), dias (Êx 31:4), dinheiro (Ed 8:28), anjos (Dn 4:13), e o povo de Deus (Lv 11:44-45). De fato, qualquer coisa separada por Deus para Seu uso é chamada de santa. Isto nos mostra que o significado do nome é literalmente “separado para Deus”. Uma coisa ou pessoa usada por Deus é considerada santa, porque Quem a usa é “Santo, Santo, Santo” (Is 6:3).

Quando estudamos este nome no Novo Testamento, além de ser usado no seu sentido absoluto para Deus (Ap 15:4), o Senhor Jesus (At 3:14) e o Espírito Santo (Ef 1:13—- o único lugar onde Ele é chamado o Santo Espírito, dando ênfase à Sua santidade), este nome é usado principalmente para as pessoas salvas “em Cristo” (I Co 1:2; Ef 1:1; Fp 1:1; Cl 1:2, etc). Alguém pode mostrar muitas qualidades boas na sua vida e ser chamado santo pelos seus conhecidos, mas no sentido bíblico, Deus somente reconhece como “santos” os que são “santificados em Jesus Cristo” porque creram nEle (II Ts 1:10), e seu pecado foi lavado pelo Seu sangue (Hb 13:12).

Em segundo lugar, notamos que todos os salvos, vivos e mortos, são considerados como “santos” por Deus; não é apenas alguns dos melhores, como Pedro, João, Paulo, etc que recebem este nome. Isto pode surpreender alguns, porque o cristianismo geralmente não usa o nome desta maneira, mas usa-o apenas para algumas pessoas, como os apóstolos, já falecidas, que são lembradas pela sua santidade enquanto viviam nesta terra.

Lendo mais no Novo Testamento descobrimos que o nome é usado para os salvos de duas formas diferentes. Em primeiro lugar, fala da sua posição, ou estado espiritual, como Deus os vê. Em segundo lugar, é usado para descrever a condição, ou andar prático destas mesmas pessoas.

O estado dos santos

Embora a igreja local em Corinto não estivesse andando em santidade, aqueles irmãos são chamados “santos”, como os Efésios e outros. Isto revela a graça de Deus, e mostra que a segurança da salvação não depende da vida dos salvos, mas do fato de que estão “em Cristo” (Ro 8:1). O mais novo e fraco salvo é um “santo”, assim como era o apóstolo Paulo, porque foi separado por Deus e tem as mesmas bênçãos espirituais, como: a liberdade da escravidão do pecado e Satanás, comunhão com Deus e Cristo como “filhos”, a eleição e vocação celestial, o Espírito Santo habitando nele, é sacerdote com o direito de adorar na presença de Deus, terá parte na gloriosa vinda de Cristo, tem herança guardada no céu. Estas coisas devem encher nossos corações de gratidão e louvor como Paulo sentiu quando meditava nelas (Ef 1:1-14)

A condição dos santos

Somente Deus é absolutamente santo (Ap 15:4). Contudo, Deus quer que Seus “santos” sejam não somente santos de no-me, mas também santos na prática, e o alvo que Ele deseja é nada menos do que a Sua própria santidade (Ef 5:27; I Pd 1:15-16). É aqui que encontramos dificuldade, pois nossa carne não permite que isto aconteça. Mas Deus, sabendo de nossas fraquezas, nos deixou tudo de que precisamos para progredir nesta santificação, embora reconhecendo que neste mundo nunca podemos chegar plenamente ao alvo.

Existe o grande perigo de ficarmos satisfeitos que somos mais santos agora do que éramos, e não desejamos aperfeiçoar neste sentido (II Co 7:1). Também, muitas vezes fixamos os nossos olhos nos homens que consideramos mais santos que nós, e procuramos ser mais como eles. Quando alcançamos alguma coisa nesta direção, descansamos consolados que já chegamos ao nosso alvo. É por isto que o alvo tem sempre que ser Cristo mesmo! “Olhando para Cristo” (Hb 12:2), e como o poeta bem escreveu: “Olhando pra Cristo, mais santo serás” (H e C nº 280). Como então podemos crescer nisto?

Como os santos podem ser mais santos?

a) “Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade” (Jo 17:17-20). O Senhor Jesus orou por nós neste sentido e também mostrou como isto podia acontecer. A palavra de Deus santifica o nosso andar. É como a água espiritual que lava nossa vida. A “palavra” nesta oração é toda a Escritura, e não devemos negligenciar a leitura e a meditação do Antigo Testamento também. Os exemplos e advertências do povo antigo de Deus são excelentes ajudas neste processo de lavagem espiritual.

b) O Espírito Santo nos santifica (II Ts 2:13). Ele é a voz interior que nos guia no caminho da santidade. Ele nos ensina da Palavra de Deus, aplicando as verdades à nossa consciência. Contudo, se recusarmos a Sua orientação, pode acontecer que a nossa consciência perca o seu efeito.

c) Os dons espirituais dados por Deus à Igreja (Ef 4:12). Deus coloca na igreja irmãos e irmãs com capacidade de nos ajudar no crescimento espiritual. Os irmãos que ensinam e cuidam da igreja são dons dados por Cristo a nós para nos ajudar a chegar ao alvo desejado. Em Fp 1:1, logo depois de mencionar os “santos” em Filipos, Paulo também menciona os “bispos” e os “diáconos” naquela igreja. Estes são exemplos para a igreja na santidade (I Tm 3; I Pd 5:1-4), e os mais novos na fé devem ver neles o exemplo certo para seguir. Certamente isto mostra a grande responsabilidade que estes irmãos têm, e que ser “presbítero” é muito mais do que só planejar o trabalho da igreja local.

d) O desejo pessoal (II Co 7:1). Mesmo com todas as ajudas mencionadas, se não houver o desejo no coração do salvo para progredir; se ficarmos satisfeitos com a nossa condição espiritual; se rejeitarmos qualquer exortação da Palavra de Deus para sermos mais santos, não haverá crescimento na vida espiritual. É para nos ajudar nesta parte que Deus nos exorta muitas vezes, nas cartas dos apóstolos, para que possamos vencer os obstáculos da carne, do mundo, e de Satanás (I Ts 4:3, 7-8). Achamos até capítulos inteiros dedicados a este assunto, como I Co 6, Ef 4 e 5, I Pd 1, I Jo 3, Hb 12, Tg 4, etc, mostrando a prioridade deste assunto do andar santo nos pensamentos de Deus.

Ao concluir, devemos lembrar que existe a falsa e a verdadeira santidade. Sempre houve a santidade fingida e externa que quer ser reconhecida pelos homens, e que não pensa em agradar ao Senhor. Os fariseus no tempo de Cristo receberam severa condenação pela sua hipocrisia (Mt 23:5). Contudo, existe também a verdadeira santidade, que é de Deus. A verdadeira santidade começa no espírito do salvo, atinge a sua alma e, então, seu corpo (I Ts 5:23). Os que querem viver na verdadeira santidade provavelmente receberão o desprezo deste mundo (II Tm 3:12), e até de crentes carnais, como aconteceu com Paulo em Corinto (II Co 10:10). Não devemos ficar surpresos, nem desanimados, por isto, porque assim foi com nosso Senhor Jesus Cristo, “O Santo e O Justo” (At 3:14).

Que nós, como santos, possamos continuar a santificar-nos, pois isto com certeza é a vontade do Senhor para cada um dos Seus.

S. R. Davidson (fim da série)

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