As Escrituras deixam bem claro a importância da Ceia, tanto para nós, quanto para Deus.
Nenhum cristão diria que a Ceia do Senhor é insignificante; todos concordam que esta ordenança do Senhor é importante. O velho provérbio, porém, tem muita razão quando diz que “atos falam mais alto do que palavras”. E podemos acrescentar que não são as palavras que falamos, e sim, as atitudes que adotamos, que revelam o que realmente pensamos.
Qualquer cristão diria que a Ceia é importante; a atitude de muitos em relação à Ceia, porém, nega o que dizem. E esta atitude de muitos crentes é também a de muitas igrejas.
Veja, por exemplo, a programação das reuniões. O melhor horário do domingo de manhã tem que ser reservado para a Escola Dominical; as demais reuniões também tem que ter um horário que garanta uma frequência melhor, mas a Ceia é “encaixada” em qualquer lugar que não atrapalhe o trabalho. Geralmente se dá um tempo depois de uma outra reunião, como se a Ceia fosse um mero “apêndice”.
A mesma atitude é evidente quando consideramos o tempo dado em muitas igrejas para a Ceia do Senhor, comparado com o tempo dado às demais reuniões. Muitos que diriam que uma hora é pouco para uma Escola Dominical, diriam que uma hora é demais para a Ceia!
As Escrituras, porém, deixam bem claro que o Partir do Pão é de grande importância, tanto para nós, quanto para Deus. Considere os seguintes fatos:
1. A Ceia foi instituída pelo Senhor Jesus pessoalmente. Quando o Senhor deu instruções ao povo de Israel a respeito da Páscoa, e outras festas, Ele falou por intermédio de Moisés. Quando, porém, quis instituir a Ceia, não o fez por intermédio de um apóstolo, nem de um anjo. Ele mesmo, em pessoa, a instituiu. Um rei ou presidente delega muitas responsabilidades aos seus subordinados, porém há certos atos importantes que ele realiza em pessoa. Sendo que o Senhor instituiu a Ceia pessoalmente, ela deve ser muito importante para Ele, e para nós.
2. Há quatro relatos da instituição da Ceia. Tudo quanto lemos na Bíblia é importante, mas quando Deus repete algum fato duas ou três vezes, é para chamar a nossa atenção à sua importância. Que diremos, pois, quando vemos a instituição da Ceia descrita quatro vezes em o Novo Testamento? Sem dúvida, Deus quer dizer-nos que a Ceia é muito importante, tanto para Ele quanto para nós.
3. Além de instituir a Ceia pessoalmente, o Senhor ainda deu uma revelação direta à Paulo. Os apóstolos estiveram presentes quando o Senhor instituiu a Ceia; viram tudo o que Ele fez; ouviram tudo o que Ele falou. Julgaríamos que isto seria suficiente para que a igreja pudesse saber como celebrar a Ceia, mas tal é a importância desta ordenança que o Senhor, depois de glorificado, ainda deu uma revelação à Paulo, mostrando-lhe como ela foi instituída (I Coríntios 11:23-26). Isto destaca, de forma impressionante, a importância da Ceia.
4. Foi instituída na noite da traição. Só o Senhor sabia o que estava acontecendo naquela hora. Sabia do pacto da traição. Sabia que aquela hora seria a última com os discípulos antes de morrer. Sabia como seria terrível aquela noite de sofrimento. Sabia que morreria no dia seguinte, pendurado numa cruz. E, sabendo tudo isto, instituiu a Ceia. Se a tivesse instituído em outra ocasião, poderíamos não perceber a sua grande importância, mas foi instituída naqueles momentos dramáticos de tanta dor, para que pudéssemos entender que ela é de suma importância para o Senhor e, consequentemente, para nós.
5. É um mandamento do Senhor. Ele disse: “Fazei isto …” (I Coríntios 11:24-25). “Fazei” é a forma imperativa do verbo; é uma ordem. O Senhor não pediu que celebrássemos a Ceia; Ele mandou. Não temos o direito de chamá-lo “Senhor” se não fizermos o que Ele manda (Lucas 6:46).
A Razão da sua Importância
A importância da Ceia deve-se à sua natureza; é diferente das demais reuniões. Geralmente nos reunimos para receber, pensando nas nossas necessidades ou nas da obra do Senhor, ou até na necessidade de pecadores perdidos, mas na Ceia deixamos tudo isso de lado, e ocupamo-nos unicamente com o Senhor. Lembramos dEle e, consequentemente, adoramos.É isto que Deus quer de nós. O Pai procura adoradores (Jo 4:23). Quando o Senhor Jesus escolheu os doze para ser apóstolos, Ele os escolheu, primeiramente, para que estivessem com Ele, e, em segundo lugar, que os mandasse a pregar (Marcos 3:14). O Senhor apreciou a devoção de Maria mais do que o serviço de Marta (Lucas 10:38-42). Serviço para o Senhor é importante, mas comunhão com o Senhor tem que ter o primeiro lugar.
Tudo isto leva a conclusão de que a Ceia é a reunião mais importante, tanto para Deus quanto para nós. Nunca devemos negligenciá-la. Nunca devemos permitir que cousa alguma interfira com este tempo precioso de ocupação com o nosso Amado. É a única reunião que tem um dia certo marcado pelas Escrituras para sua realização: é no primeiro dia da semana (veja At 20:7), e parece lógico acrescentar, à luz das Escrituras acima citadas, que deve ter o primeiro lugar no primeiro dia de cada semana, se possível no horário, mas certamente em importância. Ocupação com o Senhor, primeiro, dará mais valor ao serviço feito para o Senhor.
A Ceia do Senhor: Quem Participa?
A pergunta que serve de cabeçalho deste artigo provoca diversas respostas entre o povo de Deus; não há consenso. Alguns chegam a acreditar que a Bíblia não nos fornece uma resposta clara neste ponto, deixando-nos, portanto, à vontade para fazer o que julgamos ser mais conveniente.Nada, porém, pode ser mais longe da verdade.
A Palavra de Deus é suficiente para a nossa orientação em todas as questões relacionadas ao serviço do Senhor. Toda a Escritura é proveitosa, “para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (II Tm 3:17). Não há razão para diferenças de opinião, ou diferenças na prática.
Vejamos, portanto, o que a Palavra de Deus diz a respeito desta questão.
Atos 2:42
Esta passagem das Escrituras lança bastante luz sobre as atividades da primeira igreja plantada aqui neste mundo. Entre outras coisas, vemos uma perseverança no partir do pão, e o contexto imediato revela quem fazia isto.Naquele dia de Pentecoste, Pedro pregou o Evangelho em Jerusalém, e o Espírito Santo operou poderosamente. Muitos foram convencidos do seu pecado (v. 37), arrependeram-se e foram perdoados (v. 38 com 41). Em seguida, estas pessoas, salvas, foram batizadas (v. 41) e agregadas ou acrescentadas (v. 41). Elas perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações (v. 42).
Este quadro das atividades daquela primeira igreja mostra que os participantes da Ceia eram pessoas salvas, batizadas e perseverantes na doutrina dos apóstolos e na comunhão da igreja. A Ceia, portanto, era um ato da igreja, no qual todos os que compunham a igreja participavam com regularidade.
I Coríntios 10:16-17
Estes versículos mostram algo do significado da Ceia. Além de ser uma recordação, este ato simboliza a nossa união com o Senhor Jesus Cristo, e também a nossa união uns com os outros. O cálice é a comunhão do sangue de Cristo, e o pão que partimos é a comunhão do corpo de Cristo (v. 16). “Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo” (v. 17).Portanto, aqueles que participam da Ceia estão mostrando sua comunhão uns com os outros, pois são um só corpo. Veja a coerência entre esta doutrina e a prática em Jerusalém (At 2:42). Aqueles que perseveravam em comunhão uns com os outros, perseveravam também no partir do pão; a ideia de participar da Ceia sem estar em comunhão não aparece em o Novo Testamento, e nem seria coerente. Esta declaração de comunhão está representada também pelo uso de um cálice e um pão.
Atos 20:7
Aqui vemos um exemplo da participação de irmãos que visitam a igreja. Estes visitantes eram irmãos que não hesitariam em perseverar na comunhão daquela igreja, caso continuassem em Troas. A demora de uma semana, quando estavam com tanta pressa (At 20:6 com 16), é evidência suficiente disto, de sorte que a comunhão no partir do pão era sincera; não havia nenhuma incoerência.Neste incidente em Troas, portanto, vemos um exemplo da recepção de irmãos que estejam visitando na localidade. Estando em plena comunhão na igreja local onde residem, é perfeitamente lícito, e muito desejável, que participem com os irmãos no lugar onde estão visitando.
Um Problema Atual
A existência de denominações, porém, tem criado uma situação diferente em nossos dias. Seria muito difícil, hoje, achar uma localidade onde todos os salvos se reúnem ao nome do Senhor Jesus Cristo; estão divididos em denominações. Se um irmão está em comunhão em uma denominação, e decidir visitar os irmãos que se reúnem ao nome do Senhor Jesus Cristo, ele não poderia participar do pão e do cálice. Esta participação feriria os princípios que já observamos em I Coríntios 10:16 e 17, pois estaria demonstrando uma comunhão que não existe.O Lugar do Indouto
Tal irmão denominacional deve ser recebido, porém, com amor e alegria, para observar a Ceia. Não poderá participar, mas deve ser incentivado a observar. Ele ocupa “o lugar do indouto” (I Co 14:16 e 23), isto é, o de um irmão que ainda não aprendeu o mal do sectarismo e a necessidade de reunir com os demais irmãos na localidade onde reside, simplesmente como cristãos, reunidos ao nome do Senhor Jesus Cristo.R.E.Watterson
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