terça-feira, 29 de julho de 2014

Nomes bíblicos do povo de Deus (i)

Em dias quando ouvimos de muitos nomes no cristianismo, é sempre bom voltar para pensar na maneira como Deus chama Seu povo na Sua Palavra.


Há vários nomes usados no Novo Testamento para o povo de Deus, e queremos meditar sobre o significado de quatro destes nomes: Filhos de Deus, Discípulos, O Corpo de Cristo, e Santos.

1. Os Filhos de Deus.

a) O começo dos filhos de Deus (Jo 1:11-13)

Apesar do grande número de pessoas que usam o nome “filhos de Deus” e que chamam Deus de seu “Pai”, a maior parte destes não são reconhecidos por Deus como sendo Seus filhos. Por isto há sempre a grande necessidade de enfatizar o ensino bíblico sobre o nascimento dos filhos de Deus.

O nascimento natural nos coloca numa família natural, mas não nos fez filhos de Deus. Em Jo 8:41-44 o Senhor Jesus falou francamente para certas pessoas que diziam ser “filhos de Deus”, dizendo que eram, na realidade, “filhos do diabo”! Em Efésios 2:2-3, Paulo ensina que todos nós naturalmente seguimos nosso primeiro pai, Adão, e somos “filhos da desobediência” e, consequentemente, “filhos da ira”.

Uma pessoa pode passar muitos anos chamando Deus de “Pai” e fazendo o melhor possível para O agradar, sem contudo ser filho dEle. Em João 3 lemos dum homem velho e religioso que veio falar com o Senhor Jesus Cristo. O Senhor não demorou em explicar para aquele homem religioso que sua necessidade urgente era “nascer de novo” espiritualmente. Foi difícil para Nicodemos compreender esta necessidade, e até hoje muitos não sentem a sua necessidade do nascimento espiritual. Contudo, o Senhor Jesus mostrou claramente para ele que este nascimento vem no momento em que a pessoa arrepende-se do seu pecado e confia somente na obra que Cristo fez na cruz para nos salvar (Jo 3:14-16; Nm 21:4-9).

É surpreendente encontrar com pessoas que sabem bem estes fatos, mas não têm certeza se nasceram de novo. Observamos bem que “não é do sangue” (Jo 1:13). Isto é, não passa de pais para filhos. Recebemos a vida natural dos pais, mas a vida eterna não é transmitida nesta maneira natural. É uma bênção incalculável nascer num lar cristão, mas estes filhos não são automaticamente incluídos na família de Deus, são tão perdidos quanto qualquer filho dum criminoso. Deus não tem netos!

Também não vem pela “vontade da carne”. O que é nascido da carne é carne, e a carne não pode produzir um filho de Deus. O pregador pode desejar a salvação dos ouvintes, mas nem Paulo podia salvar ninguém (Rm 10:1). Parece que muitos pregadores hoje acham que têm mais poder do que Paulo, porque fazem algumas perguntas (”Você quer aceitar Cristo?”), fazem os ouvintes repetir uma oração, ou assinar seu nome, e pronto; “Você agora é um filho de Deus”!

O nascimento espiritual é completamente fora do poder do homem, “é de Deus”. É fruto da semente incorruptível da Palavra de Deus (I Pe 1:23), mediante “o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tito 3:5-6), quando alguém, arrependido do seu pecado, recebe o Senhor Jesus Cristo espontaneamente de todo coração, crendo no Seu Nome (Jo 1:12).

b) A consolação dos filhos de Deus (Rm 8:16-19)

Uma coisa que os novos nascidos em Cristo precisam logo é consolação. Eles têm sentido a tristeza segundo Deus que produziu o arrependimento nos seus corações. A primeira coisa que o Espírito Santo faz quando Ele vem para habitar neles é lhes consolar com a certeza da Sua salvação (v. 16). Ele “testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus”. É assim que o novo convertido sabe que é salvo. Não precisa de alguém falar desta certeza, ele mesmo pode afirmar para outros que tem crido em Cristo e que tem a vida eterna. A pessoa sem salvação não entende esta confissão e acha impossível saber destas coisas, e pode até desprezar aquele que afirma com certeza sua salvação. Claro que nunca devemos afirmar isto duma maneira orgulhosa, mas humildemente reconhecendo publicamente que é somente pela graça de Deus revelada em Cristo.

É motivo de consolação saber que o filho de Deus é também considerado como “herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo” (v. 17). Uma herança não depende tanto do mérito do filho, mas do seu relacionamento como filho. Sem dúvida há herdeiros melhores do que outros, mas a herança é garantida pela sua posição como parte daquela família. O filho de Deus é seguro eternamente, não porque merece alguma coisa do Pai, mas porque está em Cristo e tem parte na Sua segurança.

Outra consolação para os filhos de Deus é o aspecto futuro. O futuro é glorioso para todos os filhos de Deus, porque na vinda gloriosa de Cristo, os filhos de Deus também serão revelados em glória com Cristo. Por causa disto o sofrimento temporário dos filhos nesta vida é pouco em comparação com aquela glória permanente a ser revelada nos filhos de Deus (v. 18-19).

c) O crescimento dos filhos de Deus (Fp 2:12-16)

A salvação é somente o começo do crescimento espiritual. Como o nenê que nasce no lar tem uma vida completa mas precisa de muita ajuda e proteção até se desenvolver, assim é também como o novo nascido na vida espiritual. Há coisas que podem impedir o desenvolvimento espiritual, principalmente a falta de alimentação e de exercício. A Palavra da vida é o “leite genuíno” para o filho de Deus (I Pe 2:2). Como o nenê precisa diariamente de leite, o novo convertido precisa de meditar na Palavra de Deus. No começo ele precisa de ajuda em compreender a Palavra e por isto a igreja local tem a responsabilidade de apascentar os cordeiros do Senhor com a alimentação certa. O exercício espiritual consiste em usar o que ele está aprendendo, na obediência e no serviço do Senhor. A Palavra nos ensina que cada salvo tem dons espirituais, dados por Deus, que são a capacidade para servir ao Senhor neste mundo até a Sua vinda. Podemos imaginar a tristeza que haveria no lar se o nenê continua sempre nenê e não se desenvolve! Assim deve ser triste para o Senhor quando Seus filhos não mostram sinal de crescimento espiritual mas, ano após ano, precisam ser carregados e não podem alimentar a si mesmo ou ajudar outro que é mais novo na fé.

Devemos lembrar também que existe o adversário, Satanás, que quer, de qualquer forma, atrapalhar o nosso desenvolvimento espiritual (I Pe 5:8), e ele coloca armadilhas na nossa frente (Ef 6:11). Infelizmente muitos filhos de Deus, ainda novos na fé, não levam a sério este perigo, e por causa disto caem logo na tentação (Lc 22:31-33). O pecado estraga o crescimento espiritual dos filhos de Deus, mas há perdão quando confessamos e deixamos o pecado (I Jo 1:9), e nunca devemos ficar parados no pecado, mas devemos voltar ao Senhor e receber a purificação que há no sangue de Cristo, nosso Advogado (I Jo 2:1-2)

d) O caráter dos filhos de Deus (I Jo 3:1-3)

Os filhos de Deus têm grandes privilégios por serem parte da família de Deus. Também seu caráter é muito diferente daquele dos filhos da desobediência. Os filhos devem manifestar o caráter do seu Pai e assim ser como “luzeiros” no mundo. Mesmo um vagalume pequeno é visto de longe na noite escura. O mundo geralmente não gosta de alguém diferente, e faz pressão para que aquela pessoa se conforme com seus pensamentos mundanos (I Pe 2:12). Como o mundo não recebeu Cristo e a Sua luz, também não recebe Seus filhos hoje. O novo convertido deve aprender bem cedo na sua experiência cristã que não pode agradar a todos. Tem de chegar ao ponto onde esta diferença de caráter vai se manifestar, e muito melhor que isto aconteça logo, do que depois que temos perdido nosso “sabor” perante o mundo (Lc 14:34).

Nosso modelo de pureza é “assim como Ele (Cristo) é puro” (v. 3). Tudo que permitimos na nossa vida deve ser verificado pela pergunta: “Será que Cristo faria isto?” Nosso compromisso não é tanto com os irmãos e a igreja, mas com o Senhor mesmo. No início podemos receber muita ajuda de outros irmãos que têm mais experiência do que nós, mas nosso padrão não é somente aqueles irmãos. Muitos filhos de Deus param de crescer porque olham para homens e não para o Senhor. O seu caráter se torna igual ao caráter daquelas pessoas imperfeitas, mas precisam desenvolver muito mais na “perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4:13).

e) A correção dos Filhos de Deus (Hb 12:4-6)

Uma parte importante do crescimento espiritual provém da correção que recebemos de Deus nosso Pai. Talvez não gostamos de pensar nisto, mas como no lar é às vezes necessário, assim também na família de Deus. Notamos que todo filho precisa desta correção (v. 6). Não existe um filho perfeito na família de Deus; todos ainda temos a natureza carnal e desobediente. Deus corrige a nossa desobediência, não a nossa ignorância. Ele nos ensina pela Sua Palavra, e quer ver a aplicação daquilo que aprendemos na nossa vida. Quando não queremos nos submeter à verdade, Ele nos corrige até que aceitemos a Sua vontade, que é para nosso bem.

O motivo desta correção é para nossa santificação (v. 10) e utilidade no Seu trabalho (v. 12 e 13). Se uma junta do nosso corpo está fora do lugar certo, certamente aquela parte será inútil e também trará prejuízo para todo o corpo. Assim é conosco na desobediência; somos inúteis ao Senhor, e prejudicamos a igrejas da qual fazemos parte. O processo de colocar o membro deslocado é sempre doloroso, mas é o único jeito para ter utilidade e gozo futuramente. Assim devemos receber, agradecer a aplicar as correções que vem do nosso Pai, que quer sempre o melhor para nós nesta vida, e também na eternidade.

S. Davidson (continuará)

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