Segundo o príncipe das potestades do ar (Ef 2:2)
O pecador pensa que está livre. Geralmente ele se orgulha disto, pensando que nem Deus manda nele.Na verdade, ele é um escravo do pecado e de Satanás. Vemos, em Efésios 2:2, que enquanto ele anda segundo o curso deste mundo, fazendo o que todo mundo faz, sem perceber, ele está andando segundo o príncipe das potestades do ar, aquele espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Tão astuto é este inimigo, que o pecador escravizado ainda pensa que está livre, pois ele está satisfazendo os desejos da sua carne, e fazendo a vontade dos seus pensamentos (Ef .2:2-3). Antes da sua conversão, os coríntios eram “levados … conforme foram guiados” (I Co 12:2), por um poder maligno que não eram capazes de resistir. E não há exceções. “Todo o mundo está no maligno” (I Jo 5:19).
Muitos não sabem desta realidade. Admitem que alguns podem estar nas mãos de Satanás. Concordam que o assassino, o fornicário, e o viciado estão sob o domínio dele, mas não percebem que “todo o mundo está no maligno”. Consideram que o mundo das drogas com toda a sua violência e imoralidade está no maligno, mas não percebem que o mundo religioso também está. Tanto o beberrão no bar como o religioso nas suas devoções, estão sendo levados pelo príncipe das potestades do ar. Deus diz: “não há diferença porque todos pecaram”. Sim, todo o mundo jaz no maligno. O pecador está sob o domínio de Satanás e, a não ser que o Espírito Santo o ilumine, ele nem sabe que está preso nas garras de um inimigo tão terrível.
Mortos em Ofensas e Pecados (Ef 2:1)
Este versículo mostra uma condição ainda pior. Quando o pecado entrou neste mundo tirou do homem mais do que a sua liberdade; tirou-lhe a vida. Deus foi bem claro quando falou aos nossos primeiros pais: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:17). O Novo Testamento confirma isto: “a que vive em deleites, vivendo está morta” (I Tm 5:6).A situação do pecador, portanto, é tão grave que não tem esperança em si mesmo. Ele nada pode fazer para se salvar, pois está morto. Se depender dele, jamais será salvo. Está morto em ofensas e pecados; nem sente a sua desgraça e perigo, nem pode sequer querer ser salvo. Está morto. Diz a Bíblia: “… sem Cristo … não tendo esperança, e sem Deus no mundo” (Ef 2:12).
A ruína completa de toda a raça humana é uma verdade clara na Bíblia, mas rejeitada pelo mundo religioso. Geralmente se pensa que há alguma coisa de bom em cada um, e que o pecador precisa apenas de orientação e ajuda para conseguir um lugar no céu. Porém nenhum homem alcançará esta bênção pelo seu mérito. “Nenhuma carne será justificada diante dEle pelas obras da lei” (Rm 3:20).
O Jovem Rico
Veja esta verdade ilustrada no caso do jovem de Mateus 19:16-26.Era um jovem rico e religioso. Ele queria a vida eterna, veio correndo ao Senhor Jesus e, prostrando-se, perguntou: “Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna?” A resposta do Senhor o surpreendeu, e surpreende muitos até hoje. Ele pensou que era bom, que guardava a lei de Deus, e se ainda faltava alguma coisa deveria ser muito pouco. Não sabia que estava no maligno. Não sabia que estava morto em ofensas e pecados. Quando o Senhor mostrou-lhe que não há ninguém bom, senão Deus, e ainda por meio da lei convenceu aquele jovem que ele não era capaz de salvar-se a si mesmo, este retirou-se triste.
Até os discípulos ficaram admirados, e exclamaram: “Quem poderá pois salvar-se?” Note bem a resposta do Senhor Jesus: “Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível”. Ninguém pode salvar-se. Todos estão presos nas garras fortes do maligno. Todos estão mortos em ofensas e pecados. A salvação de um pecador é um verdadeiro milagre, que somente Deus pode efetuar.
Recapitulação
Até aqui temos visto nesta série de artigos, três verdades importantíssimas que se destacam no Evangelho.a) Deus quer que todos se salvem, e fez provisão suficiente para o mundo inteiro;
b) Todos, sem exceção alguma, precisam ser salvos, pois todos pecaram;
c) Tal é o estado desesperador do ser humano que ninguém, de si mesmo, pode salvar-se, nem mesmo pode querer ser salvo. O pecador está morto.
O pregador do evangelho tem que lembrar sempre destes fatos. Ele está pregando para pessoas que, deixadas à sua própria vontade, não querem crer; e, deixadas à sua própria força ou sabedoria, não podem crer. “Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus” (Rm 3:11). Não é pela eloquência do pregador que pecadores serão salvos, mas unicamente pela operação do Espírito Santo.
Um Outro Evangelho
Há, em nossos dias, um outro evangelho, que não é outro, e vem do mesmo erro daquele que foi pregado na Galácia, nos dias apostólicos (Gl 1:6-9). Anuncia que o homem pode salvar-se a si mesmo. Este “outro evangelho” está muito difundido entre os chamados evangélicos do nosso país, como também no mundo inteiro. Para os incautos, parece ser o verdadeiro evangelho, mas ele ignora a ruína total do pecador. Mesmo quando ele fala do perigo e da necessidade do pecador, ele ainda leva este a pensar que pode salvar-se a si mesmo. Basta decidir ao lado de Jesus! Esta expressão não é bíblica, e também não transmite as verdades do evangelho. Leva o pecador a pensar que se ele fizer uma decisão de apoiar “Jesus” (esquecem de chamá-lO de Senhor Jesus), ou tomar o lado dEle, tudo estará bem. Mas não é o Senhor que está precisando do apoio do pecador, e sim o pecador que necessita desesperadamente do Senhor. Decidir ao lado do Senhor não salva; é necessário crer nEle.Para levar os seus ouvintes a tal decisão, os pregadores deste evangelho moderno recorrem à palavras persuasivas que fazem lembrar um bom vendedor. Histórias emocionais não faltam, e há muita pressão por parte do pregador, ao fazer o seu “apelo”, ajudado pela música suave. Pressionam o pecador a “vir à frente” ou algo semelhante, quando, depois de uma oração, ele terá uma conversa com um “conselheiro” que o “levará a Jesus”, por meio de algumas perguntas simples. Dando uma resposta afirmativa a estas perguntas, o pecador é informado de que agora ele é salvo! Mas foi apenas uma experiência emocional; talvez um exercício intelectual; certamente não foi a salvação.
Veja quão diferente foi o trabalho do apóstolo Paulo em Corinto. Ele o descreveu nas seguintes palavras: “…quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria … estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria de homens, mas no poder de Deus” (I Co 2:1-5). Aos tessalonicenses, Paulo disse: “o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza” (I Ts 1:5).
Nesta altura, pode surgir uma pergunta; se o pecador não pode salvar-se a si mesmo, e o pregador não pode salvá-lo, por que continuar pregando o evangelho? A própria Bíblia traz uma resposta completa e esclarecedora: “aprouve a Deus salvar aos que creem, pela loucura da pregação” (I Co 1:21).
Apreendemos pelo menos duas coisas importantes neste versículo.
a) Deus pode salvar o pecador;
b) O método que Ele se apraz em usar é pela loucura da pregação.
Na verdade, parece uma loucura pregar aos que estão mortos em ofensas e pecados, pois não podem entender nem crer. Mas através da pregação do evangelho, o Espírito Santo opera. Ele ilumina. Ele convence de pecado. Ele testifica de Cristo. Ele efetua um novo nascimento. Ele vivifica.
Mas isto não anula a responsabilidade individual de cada um. Os salvos são responsáveis perante Deus pela pregação fiel deste evangelho, e cada pecador é responsável para crer para que seja salvo.
R.E.Watterson
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