terça-feira, 29 de julho de 2014

O Evangelho (ii)

Segundo o príncipe das potestades do ar (Ef 2:2)

O pecador pensa que está livre. Geralmente ele se orgulha disto, pensando que nem Deus manda nele.

Na verdade, ele é um escravo do pecado e de Satanás. Vemos, em Efésios 2:2, que enquanto ele anda segundo o curso deste mundo, fazendo o que todo mundo faz, sem perceber, ele está andando segundo o príncipe das potestades do ar, aquele espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Tão astuto é este inimigo, que o pecador escravizado ainda pensa que está livre, pois ele está satisfazendo os desejos da sua carne, e fazendo a vontade dos seus pensamentos (Ef .2:2-3). Antes da sua conversão, os coríntios eram “levados … conforme foram guiados” (I Co 12:2), por um poder maligno que não eram capazes de resistir. E não há exceções. “Todo o mundo está no maligno” (I Jo 5:19).

Muitos não sabem desta realidade. Admitem que alguns podem estar nas mãos de Satanás. Concordam que o assassino, o fornicário, e o viciado estão sob o domínio dele, mas não percebem que “todo o mundo está no maligno”. Consideram que o mundo das drogas com toda a sua violência e imoralidade está no maligno, mas não percebem que o mundo religioso também está. Tanto o beberrão no bar como o religioso nas suas devoções, estão sendo levados pelo príncipe das potestades do ar. Deus diz: “não há diferença porque todos pecaram”. Sim, todo o mundo jaz no maligno. O pecador está sob o domínio de Satanás e, a não ser que o Espírito Santo o ilumine, ele nem sabe que está preso nas garras de um inimigo tão terrível.

Mortos em Ofensas e Pecados (Ef 2:1)

Este versículo mostra uma condição ainda pior. Quando o pecado entrou neste mundo tirou do homem mais do que a sua liberdade; tirou-lhe a vida. Deus foi bem claro quando falou aos nossos primeiros pais: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:17). O Novo Testamento confirma isto: “a que vive em deleites, vivendo está morta” (I Tm 5:6).

A situação do pecador, portanto, é tão grave que não tem esperança em si mesmo. Ele nada pode fazer para se salvar, pois está morto. Se depender dele, jamais será salvo. Está morto em ofensas e pecados; nem sente a sua desgraça e perigo, nem pode sequer querer ser salvo. Está morto. Diz a Bíblia: “… sem Cristo … não tendo esperança, e sem Deus no mundo” (Ef 2:12).

A ruína completa de toda a raça humana é uma verdade clara na Bíblia, mas rejeitada pelo mundo religioso. Geralmente se pensa que há alguma coisa de bom em cada um, e que o pecador precisa apenas de orientação e ajuda para conseguir um lugar no céu. Porém nenhum homem alcançará esta bênção pelo seu mérito. “Nenhuma carne será justificada diante dEle pelas obras da lei” (Rm 3:20).

O Jovem Rico

Veja esta verdade ilustrada no caso do jovem de Mateus 19:16-26.

Era um jovem rico e religioso. Ele queria a vida eterna, veio correndo ao Senhor Jesus e, prostrando-se, perguntou: “Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna?” A resposta do Senhor o surpreendeu, e surpreende muitos até hoje. Ele pensou que era bom, que guardava a lei de Deus, e se ainda faltava alguma coisa deveria ser muito pouco. Não sabia que estava no maligno. Não sabia que estava morto em ofensas e pecados. Quando o Senhor mostrou-lhe que não há ninguém bom, senão Deus, e ainda por meio da lei convenceu aquele jovem que ele não era capaz de salvar-se a si mesmo, este retirou-se triste.

Até os discípulos ficaram admirados, e exclamaram: “Quem poderá pois salvar-se?” Note bem a resposta do Senhor Jesus: “Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível”. Ninguém pode salvar-se. Todos estão presos nas garras fortes do maligno. Todos estão mortos em ofensas e pecados. A salvação de um pecador é um verdadeiro milagre, que somente Deus pode efetuar.

Recapitulação

Até aqui temos visto nesta série de artigos, três verdades importantíssimas que se destacam no Evangelho.

a) Deus quer que todos se salvem, e fez provisão suficiente para o mundo inteiro;

b) Todos, sem exceção alguma, precisam ser salvos, pois todos pecaram;

c) Tal é o estado desesperador do ser humano que ninguém, de si mesmo, pode salvar-se, nem mesmo pode querer ser salvo. O pecador está morto.

O pregador do evangelho tem que lembrar sempre destes fatos. Ele está pregando para pessoas que, deixadas à sua própria vontade, não querem crer; e, deixadas à sua própria força ou sabedoria, não podem crer. “Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus” (Rm 3:11). Não é pela eloquência do pregador que pecadores serão salvos, mas unicamente pela operação do Espírito Santo.

Um Outro Evangelho

Há, em nossos dias, um outro evangelho, que não é outro, e vem do mesmo erro daquele que foi pregado na Galácia, nos dias apostólicos (Gl 1:6-9). Anuncia que o homem pode salvar-se a si mesmo. Este “outro evangelho” está muito difundido entre os chamados evangélicos do nosso país, como também no mundo inteiro. Para os incautos, parece ser o verdadeiro evangelho, mas ele ignora a ruína total do pecador. Mesmo quando ele fala do perigo e da necessidade do pecador, ele ainda leva este a pensar que pode salvar-se a si mesmo. Basta decidir ao lado de Jesus! Esta expressão não é bíblica, e também não transmite as verdades do evangelho. Leva o pecador a pensar que se ele fizer uma decisão de apoiar “Jesus” (esquecem de chamá-lO de Senhor Jesus), ou tomar o lado dEle, tudo estará bem. Mas não é o Senhor que está precisando do apoio do pecador, e sim o pecador que necessita desesperadamente do Senhor. Decidir ao lado do Senhor não salva; é necessário crer nEle.

Para levar os seus ouvintes a tal decisão, os pregadores deste evangelho moderno recorrem à palavras persuasivas que fazem lembrar um bom vendedor. Histórias emocionais não faltam, e há muita pressão por parte do pregador, ao fazer o seu “apelo”, ajudado pela música suave. Pressionam o pecador a “vir à frente” ou algo semelhante, quando, depois de uma oração, ele terá uma conversa com um “conselheiro” que o “levará a Jesus”, por meio de algumas perguntas simples. Dando uma resposta afirmativa a estas perguntas, o pecador é informado de que agora ele é salvo! Mas foi apenas uma experiência emocional; talvez um exercício intelectual; certamente não foi a salvação.

Veja quão diferente foi o trabalho do apóstolo Paulo em Corinto. Ele o descreveu nas seguintes palavras: “…quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria … estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria de homens, mas no poder de Deus” (I Co 2:1-5). Aos tessalonicenses, Paulo disse: “o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza” (I Ts 1:5).

Nesta altura, pode surgir uma pergunta; se o pecador não pode salvar-se a si mesmo, e o pregador não pode salvá-lo, por que continuar pregando o evangelho? A própria Bíblia traz uma resposta completa e esclarecedora: “aprouve a Deus salvar aos que creem, pela loucura da pregação” (I Co 1:21).

Apreendemos pelo menos duas coisas importantes neste versículo.

a) Deus pode salvar o pecador;

b) O método que Ele se apraz em usar é pela loucura da pregação.

Na verdade, parece uma loucura pregar aos que estão mortos em ofensas e pecados, pois não podem entender nem crer. Mas através da pregação do evangelho, o Espírito Santo opera. Ele ilumina. Ele convence de pecado. Ele testifica de Cristo. Ele efetua um novo nascimento. Ele vivifica.

Mas isto não anula a responsabilidade individual de cada um. Os salvos são responsáveis perante Deus pela pregação fiel deste evangelho, e cada pecador é responsável para crer para que seja salvo.

R.E.Watterson

Nenhum comentário:

Postar um comentário