II — Conhecendo o Mestre
Onde há discípulo, há mestre e o nosso objetivo agora é apresentar o Senhor Jesus, o nosso Mestre, Alvo e inspiração dos Seus seguidores. Vamos, então, mirá-Lo.1. O exemplo singular e inspirador do Mestre (Hb 12:2). a) Cristo era cheio do Espírito Santo. É impressionante o relato de Lucas 4:1: “Jesus, cheio do Espírito, voltou do Jordão, e foi guiado pelo mesmo Espírito ao deserto”. Todos os passos do nosso amado Senhor foram dados na plenitude da direção e do poder do Espírito Santo.
As Suas obras também foram efetuadas pelo Espírito. Pedro, em Atos 10:38, demonstra “como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder, o Qual andou por toda parte fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele”.
E foi ainda no poder do Espírito Santo que Ele efetuou a Sua obra suprema, pois, como lemos em Hebreus 9:14, “Cristo, pelo Espírito Eterno, a Si mesmo Se ofereceu sem mácula a Deus”. Como discípulos devemos, nós também, encher-nos do Espírito (Ef 5:18) e andar no Espírito (Gl 5:16).
b) Cristo era profundo conhecedor das Escrituras. Nunca é demais a ênfase que damos em todos os nossos estudos sobre a imprescindível necessidade de conhecermos a Palavra de Deus. Que mais precisamos do que o exemplo sublime do nosso amado Mestre para convencer-nos disto? Note, por exemplo, como Ele, bem cedo, ainda aos doze anos, já era profundamente familiarizado com a Palavra divina. Certa ocasião, viajando de volta para casa, Ele perdeu-se de seus pais e estes, depois de procurá-lo durante três dias, encontraram-no “no templo, assentado no meio dos mestres, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que O ouviam muito se admiravam da Sua inteligência e respostas” (Lc 2:46-47).
O nosso feroz inimigo não dá tréguas, ataca sem parar. Tiago recomenda-nos a resistir ao diabo para que ele fuja de nós (Tiago 4:7). Mas ele não desiste, fica sempre aguardando um “momento oportuno” (Lc 4:13). Como, então, resisti-lo? Há somente um meio: conhecer bem as Escrituras. Basta olharmos para o nosso Mestre quando foi tentado e saberemos o segredo da vitória nas tentações. Desafiado a transformar pedras em pães, Ele repreendeu o tentador citando Deuteronômio 8.3: “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:7). Tentado a atirar-Se do pináculo do templo para baixo, Ele resistiu ao inimigo citando Deuteronômio 6.16: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt 4:7). Instado a adorar o tentador — que atrevimento! que insolência! — afugentou-o pela citação de Deuteronômio 6.13: “Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele darás culto”. Se quisermos seguir o exemplo do nosso Mestre, seremos sempre vitoriosos nas tentações.
c) Cristo vivia uma vida de oração. Quando as multidões O acercavam, ao invés de regozijar-se com a popularidade fácil, lemos que “Ele Se retirava para lugares solitários, e orava” (Lc 5:16). Como precisamos disso! Quão grande é o perigo de nos deixarmos embriagar pelos aplausos do povo e naufragarmos espiritualmente.
Após a realização de muitas curas, diz-nos a Palavra que Ele, “tendo-Se levantado alta madrugada, foi para um lugar deserto e ali orava (Mc. 1:35). Antes de caminhar sobre as águas, dando aos discípulos uma demonstração da Sua glória, lemos que despediu a multidão e “subiu ao monte para orar” (Mc. 6:46). Antes de tomar decisões importantes, como da escolha dos discípulos, encontramo-Lo orando: “Naqueles dias retirou-Se para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus” (Lc 6:12). É assim que fazemos quando temos responsabilidades no Seu serviço?
Foi num momento de oração que Ele foi gloriosamente transfigurado. Diz a Palavra que Ele “subiu ao monte com o propósito de orar. E aconteceu que, enquanto Ele orava, a aparência do Seu rosto se transfigurou e Suas vestes resplandeciam de brancura” (Lc 9:28-29).
É isto exatamente o de que precisamos como discípulos de Cristo: subir com Ele ao monte da oração. Se assim fizermos, seremos sempre radiantes, refletindo a Sua glória em nosso caráter no vale sombrio deste mundo.
d) Cristo era absolutamente submisso e obediente ao Pai. Diz-nos a Palavra que após o diálogo do Senhor com a mulher samaritana, Ele disse aos Seus discípulos, quando estes Lhe pediram que comesse: “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis ... A minha comida consiste em fazer a vontade dAquele que me enviou, e realizar a Sua obra” (Jo 4:32, 34). Em Seu discurso após a multiplicação dos pães, Ele disse aos Seus ouvintes: “Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade própria; e, sim, a vontade dAquele que me enviou” (Jo 6:38). Comprovando diante dos Seus opositores a autoridade e autenticidade de Sua missão, Ele declarou: “Quando levantardes o Filho do Homem, então sabereis que eu sou e nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou. E Aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8:28-29). Ninguém poderia ter a ousadia de fazer a declaração que Ele fez ao Pai: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me deste para fazer” (Jo 17:4).
Como discípulos do Senhor Jesus, Ele espera de nós essa mesma submissão e obediência. Sigamos o nosso Mestre e sejamos Seus imitadores.
e) Cristo aproveitou ao máximo o tempo. Ele não gastou os Seus dias na ociosidade, nem na frivolidade, mas reconheceu a preciosidade do tempo e a necessidade de usá-lo sabiamente. Ouçamos as Suas palavras: “É necessário que façamos as obras dAquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (Jo 9:4-5). Como é que estamos usando o nosso tempo? Lembremo-nos de que ele não é nosso, mas somos despenseiros e dele teremos de prestar contas. Nosso “dia” é agora, enquanto temos boa saúde, disposição e força. Mas a noite vem, trazendo cansaço e enfraquecimento, diminuindo e, por fim, impedindo as possibilidades de serviço. Não deixemos o tempo fugir inutilmente, mas sigamos o exemplo do Mestre, usando o nosso tempo sabiamente, como nos exorta a Palavra: “Vede prudentemente como andais, não como néscios, e, sim, como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Ef 5:15-16).
f) Cristo viveu uma vida absolutamente pura. As Escrituras afirmam que “Ele Se manifestou para tirar os pecados e nEle não existe pecado” (I Jo 3:5). Afirmam, também, que Ele “não conheceu pecado, nem dolo algum se achou em Sua boca” (I Pe 2:22). Com que gloriosa autoridade Ele desafia os Seus opositores, indagando: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo 8:46). Somos exortados a olhar para o nosso Mestre e imitar o Seu exemplo de santidade e pureza, procurando “andar assim como Ele andou” (I Jo 2:6).
g) Cristo consumiu a Sua vida em amor e serviço. Ele disse aos discípulos: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor de seus amigos” (Jo 15:13). E com a autoridade do Seu exemplo Ele ordena que os Seus discípulos vivam em amor: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 13:34). Portanto, amar, para o discípulo, não é coisa facultativa, mas uma ordem do Senhor, baseada na autoridade do Seu próprio exemplo. Eis a exortação apostólica: “Andai em amor, como também Cristo nos amou, e Se entregou a Si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus em aroma suave”.
Nosso Mestre deu-nos também o sublime exemplo de serviço dedicado e humilde. Em Jo 13:4-17, vemos como Ele cingiu-Se com uma toalha, encurvou-Se e lavou os pés aos discípulos, executando uma tarefa humilde destinada a escravos. A seguir, deu-lhes o devido esclarecimento: “Compreendeis o que vos fiz? Vós Me chamais o Mestre e o Senhor, e dizeis bem; porque Eu o sou. Ora, se Eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também”. A inversão de “Mestre e Senhor” no versículo 13 para “Senhor e Mestre” no versículo 14 é muito significativa. Como Mestre Ele nos ensina a amar e a servir, mas como Senhor Ele nos ordena a fazê-lo. Ele que não encontrava tempo nem para comer, tão ocupado estava em servir, ensina-nos que a verdadeira nobreza e dignidade está em servir, “pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos” (Mc. 10:45).
h) Cristo foi totalmente fiel ao propósito da Sua vinda. Ele trilhou a senda do Calvário sem desvios ou atalhos. É notável a Sua determinação de cumprir o cronograma divino. É impressionante notar, por exemplo, as Suas próprias palavras em Caná da Galiléia, por ocasião do Seu primeiro sinal: “Ainda não é chegada a minha hora” (Jo 2:4). Que hora? Sem dúvida alguma, a hora da cruz, quando Ele iria oferecer-Se a Si mesmo como sacrifício pelos nossos pecados. Mais adiante o Espírito Santo, pela pena do evangelista, confirma o propósito divino, ao afirmar: “Então procuravam prendê-Lo; mas ninguém Lhe pôs a mão porque ainda não era chegada a Sua hora” (Jo 7:30). E, quando Ele ensinava no templo, “ninguém O prendeu, porque ainda não era chegada a Sua hora”. Quanto mais aquela hora se aproximava, tanto mais o Senhor demonstrava a Sua determinação de enfrentá-la. Que glória indizível há nas palavras que Ele proferiu naquele maravilhoso diálogo com o Pai: “Agora está angustiada a minha alma, e que direi Eu? Pai, salva-Me desta hora? mas precisamente com este propósito, vim para esta hora” (Jo 12:27). Em João 13.1, o Espírito diz que Jesus sabia que “era chegada a Sua hora de passar deste mundo para o Pai”. A hora de glorificar o Pai, consumando a obra que lhe fora confiada, a hora de suportar as amarguras da cruz “em troca da alegria que Lhe estava proposta”, ou seja, a alegria de ver o Pai “conduzindo muitos filhos à glória” como resultado da Sua penosa obra redentora (Hb 2:9-10; 12:2).
Estamos nós determinados a cumprir o propósito do Senhor para as nossas vidas? Temos procurado conhecer a Sua vontade e enquadrarmo-nos nela?
Que estas considerações sobre o nosso Senhor e Mestre possam inspirar-nos a uma vida agradável a Deus. Não temos de que nos desculpar se tal não acontece, pois o nosso amado Mestre “deixou-nos o exemplo para seguirmos os Seus passos” (I Pe 2:21) e Ele está conosco para nos fortalecer e guiar na carreira do discipulado.
L. Soares
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