terça-feira, 29 de julho de 2014

O nome da Igreja

Um dia, conversando com um desconhecido no interior do estado de São Paulo, tive oportunidade de dizer-lhe que sou um cristão. Imediatamente ele me fez uma pergunta que tenho ouvido inúmeras vezes: “Qual é o nome da sua igreja?”

Na confusão denominacional em que se encontra a cristandade atual, não podemos estranhar esta indagação, mas não devemos esquecer que já houve um tempo quando ninguém faria tal pergunta. Naqueles dias, agora tão distantes, não seria necessário perguntar, pois não havia denominações. “Todos os que criam estavam juntos”(Atos 2:44).

Lendo o Novo Testamento, percebemos que aquela união tão linda e tão agradável a Deus continuou por algum tempo. Veja, por exemplo, o que aconteceu em Corinto.

Quando Paulo chegou em Corinto para anunciar o Evangelho, ele encontrou duas classes de pessoas: judeus e gentios. Tanto um como o outro desprezou a sua mensagem, mas por razões diferentes. O judeu queria ver sinais, uma demonstração de poder; o gentio queria ouvir sabedoria, uma demonstração de inteligência; mas Paulo insistiu em pregar a Cristo crucificado, escândalo para o judeu e loucura para o gentio (I Co 1:22-24), e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados (Atos 18:8).

Quando Paulo saiu de Corinto, portanto, não havia apenas dois grupos de coríntios, mas três. Escrevendo a sua primeira carta àqueles irmãos ele disse que não deveriam causar escândalo “nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus” (I Co 10:32). Mas observe bem. Não havia necessidade de denominar aquela igreja, pois os cristãos estavam juntos; não havia divisões.

Nesta altura, porém, algo ominoso, preocupante, estava acontecendo naquela igreja. Uns diziam: “Eu sou de Paulo” e outros: “Eu sou de Apolo”. Foram os primeiros sinais de denominacionalismo. Leia os capítulos 1 a 3 e veja como o Espírito Santo se entristeceu com isto. Veja como esta epístola condena esta atitude dos coríntios.

É triste ver que aquela semente, lançada em Corinto, germinou, e hoje vemos o fruto maduro e abundante. O denominacionalismo agora é tão antigo, tão enraizado e tão generalizado, que a maioria dos cristãos o aceitam como se fosse normal. Muitos até o consideram necessário para acomodar os gostos diferentes do povo de Deus!

Nesta época denominacionalista, a pergunta no começo deste artigo não surpreende. O fato, porém, de não causar surpresa hoje não deve obscurecer a lamentável realidade que Deus se entristece muito com isto. Veja quão diferente é o modelo que Ele deixou para o Seu povo.

A primeira ocorrência da palavra “igreja” depois da descida do Espírito Santo diz que o Senhor acrescentava à igreja aqueles que se haviam de salvar (Atos 2:47, ARC). Pouco tempo depois Deus fala do grande temor em toda a igreja (5:11) por causa de Ananias e Safira. Nestes versículos nenhum nome foi dado para identificar a igreja. E não era necessário, pois todos os que criam estavam juntos. Não havia outra igreja. Era tão simples e tão lindo.

Mas o Evangelho avançava, e outras regiões foram alcançadas. Muitas outras igrejas foram plantadas. Mesmo assim, não há sugestão alguma de nomes para identificar estas igrejas. Deus simplesmente as descreve pela sua localidade. Lemos da igreja que estava em Jerusalém (Atos 8:1), da igreja que estava em Antioquia (Atos 13:1), e da igreja que está em Éfeso (Ap 2:1), etc. O modelo é claro: em qualquer localidade onde havia conversões, aquelas pessoas salvas começavam a reunir na sua localidade como igreja. Não havia necessidade de denominá-la, pois não havia divisões. Eram simplesmente cristãos, reunidos ao nome do Senhor Jesus. O mal do denominacionalismo ainda não havia levantado a sua cabeça.

Quando muitas igrejas foram plantadas numa região, ainda não vemos um nome denominacional. Lemos das igrejas da Galácia (I Co 16:1), e das igrejas da Macedônia (II Co 8:1), e das igrejas da Judéia (Gl 1:22), etc. Continuavam sendo apenas igrejas, sem qualquer denominação.

Esta maneira de falar das igrejas duma região nos ensina uma lição importante. Aquelas igrejas eram igrejas autônomas. Não vemos uma federação de igrejas naquelas regiões. Não foi organizada A Igreja da Galácia, ou A Igreja da Macedônia. Aquelas igrejas não se filiavam a organização alguma. Foi por esta razão que não precisavam de denominação. Eram apenas igrejas locais e autônomas.

Vemos esta verdade com ainda maior clareza ao observar uma outra maneira de descrever as igrejas. Lemos da igreja dos laodicenses (Col.4:16) e da igreja dos tessalonicenses (I Ts1:1 e 2 Ts1:1). A igreja que estava em Laodicéia (Ap3:18) era a igreja dos laodicenses (Col.4:16). Aquela igreja não fazia parte dum movimento nacional ou internacional, mas era uma igreja estritamente local, composta unicamente de laodicenses. Da mesma forma, a igreja em Tessalônica era a igreja dos tessalonicenses - local e autônoma.

Considere mais algumas expressões que Deus usa para descrever estas igrejas.

Igreja de Deus (1 Co10:32)

Cada igreja local pertence a Deus. A igreja dos laodicenses era composta de laodicenses, mas pertencia a Deus. Este fato nos faz lembrar que nós não temos o direito de modificar a igreja ou tentar adaptá-la ao nosso gosto. Ela não é nossa. Destaca também a reverência que deve caracterizar todas as reuniões da igreja. Que sejamos fiéis, submissos e reverentes.

Igrejas de Cristo (Rm16:16)

A igreja existe para Cristo, não para nós. Ele é o cabeça; a igreja é o corpo. Cada igreja local é reunida ao Seu Nome, e deve adorá-lO na presença de Deus e anunciá-lO ao mundo. Veja 1.Co11:23-26 e 1.Pe2:5,9.

Igrejas dos gentios (Rm16:4)

Nesta expressão Deus nos faz lembrar do que éramos — gentios, sem Cristo, sem esperança e sem Deus no mundo. Agora fazemos parte da igreja de Deus e de Cristo. Isto é graça! Isto é graça maravilhosa!

Igrejas dos santos (1 Co14:33)

Esta expressão não mostra o que éramos, mas sim, o que somos. Se “as igrejas dos gentios” destaca a graça soberana de Deus, “as igrejas dos santos” destaca a responsabilidade individual de cada membro da igreja. Deus, pela Sua graça nos santificou (Hebs.10:10); devemos ser santos, como Ele é santo (1.Pe1:15).

Conclusão

Que os nossos corações possam apreciar a beleza do modelo que Deus deixou para a igreja local. Sua simplicidade será desprezada pela carne e pelo mundo; o inimigo há de continuar atacando de todas as formas, mas Deus garante a Sua graça. Se estamos dispostos a guardar a Sua Palavra e não negar o Seu Nome, ninguém poderá fechar a porta (Ap3:8).

R. E. Watterson

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