terça-feira, 29 de julho de 2014

Oração no livro de Gênesis (viii)

Jacó — a suficiência de Deus

“Levantemo-nos, e subamos a Betel; e ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo no caminho que tenho andado” (Gn 35:3). Deste modo Jacó testifica da fidelidade do Deus que responde às orações. Oração caracteriza cada uma das crises na vida de Jacó, demonstrando como ele aprendeu a lição que a graça de Deus é suficiente em toda e qualquer circunstância.

(1) Suficiente para um Jovem (28:20-22). Nesta altura Jacó tinha cerca de quarenta anos de idade (compare Gn 26:34), uma idade que nos dias dos patriarcas seria considerado relativamente novo. A primeira fase de sua vida é caracterizada pela apreciação do valor de coisas espirituais — a primogenitura e a bênção patriarcal, mas, ao mesmo tempo, ele mostrava a tendência de buscar estas bênçãos espirituais usando meios carnais e até desonestos. Porém agora, ao fugir de Esaú, a quem havia ofendido, Deus, em graça soberana, lhe apareceu num sonho.

O sonho da escada posta na terra cujo topo atingiu o céu, é uma linda ilustração do acesso que temos ao Pai mediante o nosso Senhor Jesus Cristo (veja Jo 1:51). O primeiro degrau da escada estava bem ao alcance dum pecador que tem o coração quebrantado — “A minha alma está pegada ao pó; vivifica-me segundo a Tua palavra” (Sl. 119:25); seu topo realmente alcançou o céu — não importa quão fraca que seja a fé de um filho de Deus, Deus diz: “tua oração foi ouvida” (Lucas 1:13). É neste contexto que encontramos a primeira oração de Jacó que a Bíblia registra.

Sua oração aqui é chamada “voto”: “E Jacó fez um voto”. O voto é a forma mais baixa de oração, pois sempre inclui um elemento de auto-confiança. É por esta razão que o Senhor, dirigindo-se aos “pobres de espírito” no sermão na montanha, diz-lhes: “que de maneira nenhuma jureis” (Mt 5:34). Contudo, observamos aqui que Jacó já estava “firme nas promessas”, pois quase tudo que diz é baseado nas preciosas promessas que Deus tinha acabado de dar-lhe (veja os versículos 13-15).

Não podemos ter certeza se Jacó realmente cumprisse a sua parte do pacto (“de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo”), mas, além de qualquer sombra de dúvida, Deus cumpriu a Sua. O Senhor era com ele, o guardou e supriu as suas necessidades, e finalmente o trouxe de volta em paz para a casa de seu pai. O Senhor é todo-suficiente para um jovem em todas as provações de sua peregrinação.

(2) Suficiente para um Homem de Meia-idade (32:9-12, 24-30). Jacó não tinha partido em paz da casa de seu pai, mas agora, vinte anos depois, chegou o tempo para o cumprimento da promessa de Deus. Neste tempo Deus tornou a aparecer a Jacó, e ele se refere a isto na sua próxima oração: “Deus de meu pai Abraão, e Deus de meu pai Isaque, o Senhor, que me disseste: Torna-te à tua terra, e a tua parentela, e far-te-ei bem; menor sou eu que todas as beneficências, e que toda a fidelidade que fizeste ao teu servo; porque com meu cajado passei este Jordão, e agora me tornei em dois bandos. Livra-me, peço-te, da mão de meu irmão, da mão de Esaú; porque eu o temo; porventura não venha, e me fira, e a mãe com os filhos. E Tu disseste: Certamente te farei bem, e farei a tua descendência como a areia do mar, que pela multidão não se pode contar”.

Outra vez ele transforma em oração àquilo que Deus lhe dissera, porém esta vez não há nenhum voto, mas somente a confissão de sua indignidade total e um clamor por socorro. Aquela noite um Homem lutou com Jacó até o nascer do sol, e, como o versículo 30 indica, aquele Homem era o próprio Deus. Com Labão Jacó havia aprendido a não confiar nos homens; agora ele estava aprendendo a não confiar em si mesmo.

Enquanto lutava com ele, o Estranho celestial tocou a juntura de sua coxa, deslocando-a permanentemente. Enquanto ele agarrava-se ao Homem, Jacó nem percebeu o que tinha acontecido. Mas uma vez que tentou andar sozinho na luz da manhã ele veio a reconhecer sua necessidade constante de ajuda e apoio; sua deficiência física lhe ensinou constantemente a lição espiritual de dependência de Deus, e isto para o resto da sua vida.

Havendo lutado com Deus, Jacó estava preparado para um encontro pacífico com Esaú. Aqui então vemos a suficiência de Deus para um homem de meia-idade em todas as suas preocupações pela segurança de sua família.

(3) Suficiente para um Homem Velho (49:18). “A Tua salvação espero, ó Senhor!” Jacó ofereceu esta pequena oração no dia de sua morte, com a idade de 147 anos, ao abençoar seus doze filhos. Talvez no passado ele tivesse tido esperança em seus filhos, mas a maioria deles o havia desapontado, e quanto a José, o único com quem ele sentiu uma união espiritual, também foi desapontado, havendo sido privado dele pela maior parte de sua vida.

Portanto, ao aproximar-se da eternidade, sua alma já fora despegada de qualquer outra esperança ou confiança, como diz o Salmista: “Agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em Ti” (Sl. 39:7).

Jó, embora provado severamente, fala de estar nesta atitude de esperança todos os dias: “Morrendo o homem, porventura tornará a viver (na terra)? Todos os dias de minha combate esperaria, até que viesse a minha mudança” (Jó 14:14). Davi fala de estar esperando todo o dia: “Tu és o Deus da minha salvação; por ti estou esperando todo o dia” (Sl. 25:5).

No meio das ruínas de Jerusalém, Jeremias clama: “A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nEle” (Lam. 3:24, veja também os versículos 25 e 26). No meio das ruínas de sua família (veja Mq. 7:5,6), Miquéias diz: “Eu, porém olharei para o Senhor; esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá” (Mq. 7:7). No meio da ruína moral que já invadira o templo de Deus, Simeão declara: “Agora, Senhor, despedes em paz o Teu servo, segundo a Tua palavra; pois já os meus olhos viram a tua salvação” (Lucas 2:29,30).

Gemendo juntamente com toda a criação, na servidão da corrupção, os filhos de Deus esperam “a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8:23). O tempo se aproxima também quando todo o Israel de Deus, vindo da grande tribulação, dirá: “Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na Sua salvação gozaremos e nos alegraremos” (Is 25:9).

Num mundo que merece a justa ira de Deus, nós esperamos “dos céus a Seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura” (I Ts 1:10). Num mundo sujeito à morte e ao juízo, esperamos Aquele que “aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação” (Hb. 9:28).

Quando Jacó disse: “A Tua salvação espero” ele demonstrou que, embora seu corpo estivesse chegando ao momento da sua dissolução, a sua esperança estava ficando cada vez mais forte, pois “a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pro. 4:18). O Senhor é todo-suficiente para o homem velho, um velho peregrino, nos seus últimos momentos, enquanto espera estar com Cristo que é “ainda muito melhor”.

Finalmente, vamos observar como o desenvolvimento espiritual de Jacó nestas três fases da sua vida, pode ser comparado com os “filhinhos”, “jovens” e “pais” de I Jo. 2:12-14.

(1) Os “filhinhos” estão ocupados principalmente com aquilo que têm recebido de Deus — o perdão dos pecados e a adoção de filhos. Assim também Jacó, em Gn 28, estava pensando naquilo que Deus lhe tinha prometido dar e fazer em seu favor, e ele baseou seu voto nestas coisas.

(2) Quanto aos “jovens”, salienta-se aquilo que eles fazem por Deus — andando na Sua força, guardando a Sua palavra, e vencendo o inimigo. Assim também Jacó, em Gn 32, vencido por Deus no tocante à carne, mas fortalecido como príncipe com Deus no tocante a sua fé, estava preparado para enfrentar a inimizade de seu irmão.

(3) Os “pais”, porém, estão ocupados com a Pessoa imutável e infalível que têm conhecido, e que têm provado ser fiel, mais e mais, através de todas as provações da vida. Foi assim com Jacó também em Gn 49. Sua vida estivera cheia de dificuldades, desapontamentos e mágoas; mas quer seja como viajante em Betel, seja explorado na fazenda de Labão; quer seja peregrino na terra de Canaã ou estrangeiro no Egito, Deus era com ele e o guardou por onde quer que fosse, justamente como Ele havia prometido (Gn 28:15).

Receber de Deus é bom, ser capacitado para servir a Deus é melhor, mas conhecê-Lo é melhor que tudo.

T. J. Blackman

Um comentário:

  1. Boa noite. lendo sobre a oração de Jacó me veio a mente a experiência de Pedro quando negou o Senhor Jesus Cristo. Eu queria saber mais sobre a passagem no evangelho de João capítulo 21.Principalmente versículos 15-17.

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