segunda-feira, 29 de junho de 2015

O conhecimento de Deus (ii)

Será que temos sede do conhecimento de Deus. E como é que se adquire tal conhecimento?

Já consideramos algumas referências negativas, agora vamos aprender algo positivo a fim de sabermos como se adquire o conhecimento de Deus, e com quais resultados.

Em primeiro lugar, devemos deixar claro que tal conhecimento não figura entre as ciências e disciplinas acadêmicas deste mundo. I Co 1:21 afirma claramente: “O mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria”. O mesmo capítulo indica que a verdadeira sabedoria somente se acha em “Cristo crucificado”, e é encontrada somente pelas “coisas loucas … fracas … vis … e desprezíveis deste mundo” (vs. 27-28), isto é, os que se apegam a Ele como sua única esperança de salvação.

Continuaremos a basear nossa meditação nas ocorrências da expressão “o conhecimento de Deus”, estudando agora quatro referências positivas, duas em cada testamento.

Em primeiro lugar, voltamos à profecia de Oséias, onde, em 6:6, descobrimos o que é o desejo de Deus. Ele não somente quer a misericórdia, mas também quer que os que recebem Sua misericórdia venham a conhecê-Lo pessoalmente: “Eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos”. O significado maravilhoso desta afirmação divina é simplesmente que Deus queria basear nosso relacionamento com Ele não naquilo que nós possamos dar a Ele (“não o sacrifício”), mas sim no que Ele dá a nós (“misericórdia … e o conhecimento de Deus”). Ao citar este versículo em Mt 9:13 e 12:7, o Senhor deixou isto bem claro.

Portanto, se pela graça de Deus temos o desejo de conhecê-Lo, podemos ter certeza que Ele quer ser conhecido de nós. Disse o Senhor Jesus na Sua oração na véspera do Calvário: “A vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3).

Em segundo lugar, passamos a Provérbios capítulo 2, onde dá-se ênfase ao nosso desejo. No v. 5, promete-se ao filho de Deus: “Entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus”. Os versículos anteriores indicam como isso vem a acontecer. Em cada versículo dois verbos descrevem um desejo crescente de ter o conhecimento de Deus. “Se aceitares as Minhas palavras, e esconderes contigo os Meus mandamentos” (v. 1) — aqui temos evidência da existência de vida espiritual, porque “o homem natural não compreende (ou, “não aceita”, ARA) as coisas do Espírito de Deus” (I Co 2:14). “Para fazeres o teu ouvido atento … e inclinares o teu coração ao entendimento” (v. 2) — isto indica a nova tendência por parte do espírito regenerado. “Se clamares por conhecimento, e por inteligência alçares a tua voz” (v. 3) — agora realmente se sente a necessidade, expressa em oração ardente. “Se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares” (v. 4) — aqui há uma apreciação do valor e preciosidade desse conhecimento.

Tudo isso se cumpre na promessa do v. 5: entende-se o temor do Senhor, acha-se o conhecimento de Deus, porquanto, como diz o v. 6: “O Senhor dá a sabedoria; da Sua boca (isto é, pela Sua palavra) é que vem o conhecimento e o entendimento”.

A terceira referência é Cl 1:10: o crescimento no conhecimento de Deus. Paulo tinha ouvido a respeito da operação da graça de Deus em Colossos, e, embora não envolvido pessoalmente na conversão deles, logo se entregou a oração incessante em seu favor. Um dos desejos principais de suas orações a favor deles era que crescessem em sabedoria e inteligência espiritual. Observe que ele não pediu que tivessem um pouco de conhecimento elementar, para começarem na vida cristã, mas sim, que fossem “cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual” (1:9). Então, vemos como isso não seria para que ganhassem uma compreensão teórica da teologia, mas simplesmente para que soubessem agradar a Deus no “andar”, e produzir o fruto de todas as boas obras, e assim, por estes meios, “crescendo no conhecimento de Deus”. Vemos, portanto, que, embora o conhecimento de Deus é um dom, ele somente é dado aos que desejam fazer a Sua vontade: “Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina conhecerá…” (Jo 7:17).

A quarta e última referência se encontra em II Pe 1:2, onde se indica que “o conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor”, é o meio da multiplicação de graça e paz, e, no versículo seguinte, da comunicação de “tudo que diz respeito à vida e piedade”. Na verdade, “conhecimento” é a palavra-chave da segunda Epístola de Pedro, ocorrendo sete vezes nos três capítulos. Veja, brevemente, como o conhecimento está ligado com a prática da vida cristã nesta epístola:

  • 1:2 — graça e paz;
  • 1:3 — a vida e piedade;
  • 1:5-6 — acrescentando à fé (ou, “na fé”), juntamente com a virtude, a temperança, a paciência, a piedade, o amor fraternal, e a caridade;
  • 1:8 — é o remédio para curar a ociosidade e esterilidade espiritual;
  • 2:20 — o meio de escapar das “corrupções do mundo”;
  • 3:18 — para evitar o “engano dos homens abomináveis” e não descair de nossa própria firmeza (3:17).

Vemos, então, que sem o conhecimento de Deus não pode existir nem vida e piedade, nem fruto e crescimento espiritual, e nem a separação das corrupções e enganos deste presente século mau.

Não é de admirar que Oséias disse que “o meu povo foi destruído porque lhe faltou o conhecimento”, e que Jeremias disse que Jeová, a esperança e o Redentor de Israel, era “como um estrangeiro na terra e como o viandante que se retira a passar a noite” (Jr 14:8). E não é assim também em nossos dias? Já é um fato muito triste que o mundo “não conhece a Deus”, mas quanto mais quando o próprio povo de Deus O desconhece! No livro de Jeremias, vemos Israel naquele estado “ocioso e estéril” que é o resultado da rejeição do conhecimento de Deus. Vez após vez Deus refere-se a isso, através de Seu servo Jeremias: “os que tratavam da lei não Me conheciam” (Jr 2:8); “o Meu povo está louco, já não Me conhece; são filhos néscios, e não entendidos; são sábios para fazer o mal, mas não sabem fazer o bem” (4:22); “pelo engano recusam conhecer-Me, diz o Senhor” (9:6).

Já vimos que o orgulho é um grande impedimento ao crescimento no conhecimento de Deus. Alguns se gloriavam na sabedoria, outros na sua força e riquezas, “mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em Me entender e Me conhecer, que Eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor” (Jr 9:23-24).

Havia, porém, um remanescente piedoso nos dias de Jeremias, que é descrito, no cap. 24, pela figura de “figos bons”. Com respeito a estes o Senhor promete: “dar-lhes-ei coração para que Me conheçam, porque Eu sou o Senhor; e ser-Me-ão por povo, e Eu lhes serei por Deus; porque se converterão a Mim de todo o Seu coração” (24:7).

Depois, ainda no livro de Jeremias, se revela que o conhecimento do Senhor é um dos benefícios de graça da nova aliança: “E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos Me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor” (Jr 31:34). As palavras do Senhor Jesus na instituição do partir do pão (Lc 22:20), e o ensino de Hebreus caps. 8 e 10 (onde se cita Jr 31), deixam claro que a nova aliança forma a base da presente dispensação também.

Então, será que Paulo diria com respeito a nós: “alguns ainda não têm o conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa”? Será que temos sede de Deus, do Deus vivo? Ou será que dizem-nos constantemente: “Onde está o teu Deus?” (Sl 42:1-3) Que o Espírito Santo possa aumentar em nós cada vez mais a sede espiritual e o desejo sincero de conhecer Àquele que chamamos “nosso Deus”, Àquele que nos manifestou tanto amor, dando Seu Filho amado para nos salvar.

T. J. Blackman (final da série)

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