A oração do servo de Abraão: a orientação de Deus
“Ó SENHOR, Deus de meu Senhor Abraão, dá-me hoje bom encontro, e faze beneficência ao meu senhor Abraão! Eis que estou em pé junto à fonte de água e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água; seja, pois, que a donzela, a quem eu disser; Abaixa agora o seu cântaro para que eu beba; e ela disser: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; esta seja a quem designaste ao teu servo Isaque, e que eu conheça nisso que usaste de benevolência com meu senhor” (Gn 24:12-14).Enquanto ás três Pessoas da Trindade cooperam perfeitamente na obra de salvação, é importante observar que, dentro deste plano, cada Pessoa tem um alvo especial. O Filho veio buscar e salvar os perdidos (Lc 19:10). O Pai está buscando adoradores (Jo 4:23). E este capítulo (Gn 24) é uma lindíssima ilustração do objetivo especial do Espírito Santo – buscar uma noiva para o Filho de Deus.
Não é nosso propósito entrar na interpretação típica de Gênesis 24 (que já foi tratada num artigo anterior). Mas queremos observar simplesmente que, na realização de Seu alvo especial, o Espírito Santo geralmente opera através de instrumentos – evangelistas, pastores e mestres, etc. Assim, o fiel servo de Abraão também serve como exemplo para aqueles que têm o imenso privilégio de serem usados pelo Espirito de Deus na formação e edificação da Igreja que é corpo de Cristo, Sua noiva.
A oração deste servo piedoso demonstra dois princípios ligados à orientação que Deus dá aos Seus servos:
a) Ele compreendeu o propósito do pai (Abraão).
O desejo e preocupação de Abraão era achar uma esposa para Isaque que participasse do mesmo caráter peregrino que ele – seria da mesma família que fora chamada para sair de Ur dos caldeus. Também seria, pela fé, participante na mesma herança que a família peregrina havia de receber (Hb 11:8). Por esta razão, ele fez seu servo jurar: “Não tomarás mulher para meu filho das filhas dos cananeus, em cuja terra habito; irás, porém, à casa de meu pai, e a família, e tomarás mulher para meu filho” (Gn 24:37-38).Efésios capítulo 1 expõe o propósito da graça de Deus Pai, descrevendo a eleição, aceitação e segurança de Seu povo “segundo o beneplácito da Sua vontade” (v.5), “segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo” (v.9), “conforme o propósito dAquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade” (v.11).
O verdadeiro servo de Deus não é algum tipo de vendedor ou agente de publicidade, procurando meramente promover os interesses de Deus entre os ímpios, mas é envolvido na realização do propósito divino. Deus esta tomando das nações “um povo para Seu nome” (Atos 15:14), acrescentando “à igreja aqueles que se haviam de salvar”(Atos 2:47), trazendo pecadores ao Seu amado Filho para receberem nEle a vida eterna (Jo 6:44), e Lhe aprouve usar a pregação de Seus humildes servos para realizar este desígnio (I Co 1:21).
Portanto, o servo que está em harmonia com este propósito do Pai, vai querer ver uma igreja formada que será santa e separada do mundo. Tal servo pode pedir, e esperar receber, toda a orientação que precisar, exatamente como o servo de Abraão foi guiado para achar “a mulher que o SENHOR designou” ao filho de seu senhor (Gê. 24:44).
b) Ele apreciou aquilo que seria digno do filho (Isaque).
A simples oração do servo mostra que ele entendeu perfeitamente qual tipo de mulher seria ideal para Isaque. Ele tinha em vista o mais alto padrão possível, não de beleza física, mas de uma pessoa que estaria disposta a prestar serviço sacrificial, mesmo a uma pessoa completamente estranha, e quanto mais ao marido e família dela. Satisfazer a sede de dez camelos não é fácil, mas Rebeca “apressou-se... e correu”, tirando água para todos os seus camelos (v.20).O Espírito Santo também está trabalhando para preparar uma noiva digna do amado Filho de Deus. Aqueles que Ele usa como instrumentos nesta obra devem ter em mira o mesmo objetivo também. Podemos observar isto nos apóstolos.
Paulo, por exemplo, relata aos Colossenses como ele estava orando em seu favor: “Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo; dando graças ao Pai...” (Col. 1:9-13).
Tendo ouvido acerca da conversão deles, Paulo deu graças, mas ainda não ficou satisfeito. Imediatamente, começou a orar que estes novos convertidos fossem também sábios, frutíferos, conhecedores de Deus, pacientes, longânimes, alegres e agradecidos; e tudo isso a fim de que andassem “dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo”. No mesmo capítulo ele lhes informa que não somente estava orando, mas também sofrendo e trabalhando para este fim (Col. 1:24, 29).
Em II Co 11:2 Paulo mostra como, semelhante ao servo de Abraão, ele estava em completo acordo com o propósito do Pai e desejava que, mesmo em Corinto, a igreja pudesse ser tal que o santo Filho de Deus aprovasse: “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo”.
Vivemos em dias de esterilidade espiritual, quando até a ideia de ser guiado por Deus é recebida geralmente com ceticismo, ou até com zombaria. Que Deus nos dê uma nova visão de Seu soberano propósito, e da dignidade de Seu Filho amado, a fim de que aquela palavra seja cumprida cada vez mais na experiência de Seus servos: “se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve” (I Jo 5:14).
T. J. Blackman
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