terça-feira, 29 de julho de 2014

Oração no livro de Gênesis (vi)

A oração do servo de Abraão: a orientação de Deus

“Ó SENHOR, Deus de meu Senhor Abraão, dá-me hoje bom encontro, e faze beneficência ao meu senhor Abraão! Eis que estou em pé junto à fonte de água e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água; seja, pois, que a donzela, a quem eu disser; Abaixa agora o seu cântaro para que eu beba; e ela disser: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; esta seja a quem designaste ao teu servo Isaque, e que eu conheça nisso que usaste de benevolência com meu senhor” (Gn 24:12-14).

Enquanto ás três Pessoas da Trindade cooperam perfeitamente na obra de salvação, é importante observar que, dentro deste plano, cada Pessoa tem um alvo especial. O Filho veio buscar e salvar os perdidos (Lc 19:10). O Pai está buscando adoradores (Jo 4:23). E este capítulo (Gn 24) é uma lindíssima ilustração do objetivo especial do Espírito Santo – buscar uma noiva para o Filho de Deus.

Não é nosso propósito entrar na interpretação típica de Gênesis 24 (que já foi tratada num artigo anterior). Mas queremos observar simplesmente que, na realização de Seu alvo especial, o Espírito Santo geralmente opera através de instrumentos – evangelistas, pastores e mestres, etc. Assim, o fiel servo de Abraão também serve como exemplo para aqueles que têm o imenso privilégio de serem usados pelo Espirito de Deus na formação e edificação da Igreja que é corpo de Cristo, Sua noiva.

A oração deste servo piedoso demonstra dois princípios ligados à orientação que Deus dá aos Seus servos:

a) Ele compreendeu o propósito do pai (Abraão).

O desejo e preocupação de Abraão era achar uma esposa para Isaque que participasse do mesmo caráter peregrino que ele – seria da mesma família que fora chamada para sair de Ur dos caldeus. Também seria, pela fé, participante na mesma herança que a família peregrina havia de receber (Hb 11:8). Por esta razão, ele fez seu servo jurar: “Não tomarás mulher para meu filho das filhas dos cananeus, em cuja terra habito; irás, porém, à casa de meu pai, e a família, e tomarás mulher para meu filho” (Gn 24:37-38).

Efésios capítulo 1 expõe o propósito da graça de Deus Pai, descrevendo a eleição, aceitação e segurança de Seu povo “segundo o beneplácito da Sua vontade” (v.5), “segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo” (v.9), “conforme o propósito dAquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade” (v.11).

O verdadeiro servo de Deus não é algum tipo de vendedor ou agente de publicidade, procurando meramente promover os interesses de Deus entre os ímpios, mas é envolvido na realização do propósito divino. Deus esta tomando das nações “um povo para Seu nome” (Atos 15:14), acrescentando “à igreja aqueles que se haviam de salvar”(Atos 2:47), trazendo pecadores ao Seu amado Filho para receberem nEle a vida eterna (Jo 6:44), e Lhe aprouve usar a pregação de Seus humildes servos para realizar este desígnio (I Co 1:21).

Portanto, o servo que está em harmonia com este propósito do Pai, vai querer ver uma igreja formada que será santa e separada do mundo. Tal servo pode pedir, e esperar receber, toda a orientação que precisar, exatamente como o servo de Abraão foi guiado para achar “a mulher que o SENHOR designou” ao filho de seu senhor (Gê. 24:44).

b) Ele apreciou aquilo que seria digno do filho (Isaque).

A simples oração do servo mostra que ele entendeu perfeitamente qual tipo de mulher seria ideal para Isaque. Ele tinha em vista o mais alto padrão possível, não de beleza física, mas de uma pessoa que estaria disposta a prestar serviço sacrificial, mesmo a uma pessoa completamente estranha, e quanto mais ao marido e família dela. Satisfazer a sede de dez camelos não é fácil, mas Rebeca “apressou-se... e correu”, tirando água para todos os seus camelos (v.20).

O Espírito Santo também está trabalhando para preparar uma noiva digna do amado Filho de Deus. Aqueles que Ele usa como instrumentos nesta obra devem ter em mira o mesmo objetivo também. Podemos observar isto nos apóstolos.

Paulo, por exemplo, relata aos Colossenses como ele estava orando em seu favor: “Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo; dando graças ao Pai...” (Col. 1:9-13).

Tendo ouvido acerca da conversão deles, Paulo deu graças, mas ainda não ficou satisfeito. Imediatamente, começou a orar que estes novos convertidos fossem também sábios, frutíferos, conhecedores de Deus, pacientes, longânimes, alegres e agradecidos; e tudo isso a fim de que andassem “dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo”. No mesmo capítulo ele lhes informa que não somente estava orando, mas também sofrendo e trabalhando para este fim (Col. 1:24, 29).

Em II Co 11:2 Paulo mostra como, semelhante ao servo de Abraão, ele estava em completo acordo com o propósito do Pai e desejava que, mesmo em Corinto, a igreja pudesse ser tal que o santo Filho de Deus aprovasse: “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo”.

Vivemos em dias de esterilidade espiritual, quando até a ideia de ser guiado por Deus é recebida geralmente com ceticismo, ou até com zombaria. Que Deus nos dê uma nova visão de Seu soberano propósito, e da dignidade de Seu Filho amado, a fim de que aquela palavra seja cumprida cada vez mais na experiência de Seus servos: “se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve” (I Jo 5:14).

T. J. Blackman

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